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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

No Líbano, lideranças ‘de sempre’ articulam novo governo após explosão

As mesmas lideranças libanesas consideradas responsáveis pela explosão que varreu a capital, Beirute, no último dia 4, se organizam para a montagem de um novo governo, informou correspondente da Associated Press no Líbano nesta terça (26).

Com uma população acossada por uma pandemia global, uma crise econômica sem precedentes e a cidade parcialmente destruída, o sistema está mais forte do que nunca.

No Líbano, lideranças 'de sempre' articulam novo governo após explosão
Protestos em Beirute, na capital do Líbano, em 2019 (Foto: Wikimedia Commons)

Desde o fim da guerra civil, em 1990, uma classe política clientelista sustentou o frágil equilíbrio libanês. Trata-se de um país pequeno, do tamanho do estado brasileiro de Sergipe, com divisões culturais e religiosas difíceis de conciliar.

Demografia e política

Há muçulmanos xiitas e sunitas, cristãos maronitas, coptas e ortodoxos e drusos e alauítas, entre outros. Tudo isso em uma população de cerca de quatro milhões.

Os maiores grupos, muçulmanos, cristãos e drusos, têm representação partidária e dividem o poder deixando pouco – senão nenhum – espaço para grupos independentes na política local.

“Basicamente, não temos como tirá-los dali”, afirmou Nizar Hassan, ativista da sociedade civil, à AP. Os mesmos nomes que comandam os partidos libaneses são as lideranças dos tempos da guerra, que começou em 1975 e durou 15 anos.

Partidos que ofereçam uma resposta política além do sectarismo étnico-religioso encontram pouco eco em uma população pouco habituada a um modelo que ignore essas diferenças na sociedade local.

As agências de segurança locais também se ocupam de sufocar eventuais movimentos oposicionistas, relatou Hassan. Emissoras de televisão e outros veículos de imprensa também relutam em receber pontos de vista distintos do modelo vigente, afirma.

Apoio do empresariado

No país, espera-se que os reflexos da crise econômica, do endividamento externo e da explosão em Beirute contribuam para que o setor empresarial libanês retire, de forma gradual, seu apoio ao atual modelo político.

Não é incomum que auxílios setoriais e ao empresariado venham condicionados a apoio, explica a reportagem.

Uma mudança na lei eleitoral foi desenhada para aumentar a representação de partidos não tradicionais. Mas não demorou até que políticos tradicionais capturassem a nova estrutura para garantir que não houvesse renovação no Parlamento.

O sistema seria, portanto, “imune a reformas”, na avaliação do ex-assessor do Ministério do Interior Khalil Gebara. “Ao mesmo tempo, o total colapso vai abrir uma caixa de Pandora com todo tipo de conflito sectário.”

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