As forças armadas norte-americanas, através de seu Comando na África (Africom), anunciaram a realização de um novo ataque aéreo tendo como alvo o grupo extremista Al-Shabaab no sul da Somália. Poucos detalhes da operação, realizada no sábado (20), foram divulgados na terça-feira (23).
O ataque ocorreu na cidade de Jilib e foi realizado em cooperação entre os militares dos EUA e da Somália. Dessa vez, porém, não foi divulgado se a ação levou à morte ou à captura de alguma figura relevante do grupo extremista, como ocorreu em episódios semelhantes anteriores.
“A avaliação inicial do comando é que nenhum civil foi ferido ou morto”, diz o comunicado. “O Comando dos EUA na África toma grandes medidas para evitar baixas civis. Proteger civis inocentes continua sendo uma parte vital das operações do comando para promover uma África mais segura e estável”.
No dia anterior à divulgação das informações sobre o ataque, o Africom anunciou o balanço trimestral de suas operações no continente africano. E disse que no período de três meses abordado pelo documento não houve qualquer baixa civil registrada em operações de contraterrorismo.
O balanço, porém, admite que pode haver discrepância na comparação com “relatórios de vítimas civis” de “outras organizações, incluindo Organizações Não Governamentais (ONGs).” Por exemplo, o Departamento de Defesa norte-americano não considera como vítimas civis quem tenha se envolvido em eventuais hostilidades contra os militares dos EUA.
Atualmente, o Al-Shabaab é alvo de uma grande operação de contraterrorismo realizada pelo governo da Somália com o apoio dos EUA. Washington havia decidido, durante o governo de Donald Trump, retirar suas tropas do território somali, mas Joe Biden reativou a missão e enviou cerca de 500 soldados ao país africano em 2022.
Para ampliar a cooperação entre os dois países, Mahad Salad, diretor da Agência Nacional de Inteligência e Segurança da Somália, esteve em Washington e Nova York nos últimos dias, segundo a rede Voice of America (VOA). Lá, se reuniu com autoridades dos serviços de segurança, mas detalhes dos encontros são mantidos em sigilo.
Em março deste ano, Washington havia anunciado a ampliação do apoio militar ao país africano com o envio de 61 toneladas de armamento e munição. O pacote inclui fuzis de assalto AK-47, metralhadoras pesadas e munições.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana (UA). Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um levantamento feito pela ONU e divulgado em dezembro de 2022 aponta que 613 civis morreram no ano passado na Somália em ações terroristas. A maioria dessas pessoas, 315, foi vítima de dispositivos explosivos improvidas (IEDs, na sigla em inglês).
Os números, apresentados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), apontam, ainda, casos de vítimas civis atingidas pelas forças do governo, por milícias armadas aliadas às forças armadas somalis e por outros “atores não identificados”. As mais de 600 mortes representam um aumento de um terço em relação a 2021, maior número registrado no país desde 2017.
Devido ao crescimento do Al-Shabaab, o presidente Hassan Sheikh Mohamud iniciou, em agosto do ano passado, uma grande ofensiva contra os insurgentes. Na ocasião, ele comparou a facção a “uma cobra mortal” e disse que “não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”.
Ao prometer confrontar os insurgentes, ele inclusive alertou a população para que não seja pega no fogo cruzado. “O Al-Shabaab será confrontado usando todos os métodos que a guerra permitir. Eles serão bombardeados, invadidos e submetidos a ataques aéreos. Então, fique longe deles”, disse Mohamud.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista. E, mais recentemente, em outubro de 2022, um associado ao EI, com nacionalidade brasileira e negócios no país, foi sancionado pelos EUA.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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