Pesquisas e declarações de autoridades chinesas comprovam a tese de que Beijing busca reduzir ao máximo a população da etnia uigur em seu território – um dos precedentes para a classificação de genocídio. A conclusão está em um artigo pré-publicado pelo jornal acadêmico Central Asian Survey, nesta terça (8).
Afirmações de estudiosos, funcionários e autoridades da China demonstram que Beijing tem a minoria étnica muçulmana de raízes turcas como uma “ameaça” à segurança nacional.
Por serem a maioria na província de Xinjiang – uma das maiores do país –, a concentração e rápido crescimento populacional dos uigures devem ser mitigados mesmo se o problema do terrorismo na região for resolvido, defendem as autoridades.
Nas declarações analisadas, autoridades e pesquisadores chineses defendem que a base para resolver o contraterrorismo de Xinjiang é “resolver o problema humano”. Em outras palavras, “diluir a proporção das populações étnicas e levar a maioria Han“, explicita um dos artigos analisados.
A diluição já começou. Em 2016, Beijing suprimiu as taxas de natalidade uigur com a desculpa de “otimizar as proporções étnicas” para fins de contraterrorismo. As ações evitariam até 4,5 milhões de nascimentos até 2040 só no sul de Xinjiang, onde a maioria dos uigures estão concentrados.
A origem da operação está ancorada em uma campanha dos uigures pela violência – movimento que Beijing classifica como “violento”. Já os representantes da minoria reportam discriminação pela maioria han e repressão pelo Estado.
Expulsão e esterilização forçada
Os controles de natalidade entre a população uigur e outras minorias, porém, nem sempre é consentido. Denúncias apontam que mulheres da minoria étnica são submetidas à esterilização forçada, apontou a revista Foreign Policy.
Dispositivos intrauterinos e até aborto tornaram-se cada vez mais comuns, embora o emprego desses métodos tenha diminuído no restante do país. Nas regiões de Hotan e Kashgar, majoritariamente uigures, a taxa de natalidade caiu mais de 60% entre 2015 e 2018. Em 2019, a queda foi de 24% em Xinjiang, ante 4,2% no restante do país.
Enquanto isso, a população han recebe incentivos para ocupar áreas até então dominadas por uigures. Em 2022, o governo chinês planeja incentivar 300 mil habitantes han a mudarem-se para o sul de Xinjiang – apesar do superpovoamento.
A implementação e multiplicação dos campos de detenção desde 2017 se unem às evidências de repressão contínua – e genocídio, como já classificaram países como os EUA, Reino Unido e, mais recentemente, Lituânia.
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