O governo dos EUA prepara a remoção de milhares de afegãos que trabalharam como intérpretes das forças estrangeiras durante a ocupação do Afeganistão, informa a rede ABC.
As forças norte-americanas e da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) pretendem deixar o país até o dia 11 de setembro. O processo teve início em maio, e a expectativa é de que termine bem da data simbólica. Possivelmente em julho. E muitos colaboradores temem virar alvo do Taleban assim que a retirada das tropas for concluída, sob a acusação de terem colaborado com o inimigo.
Milhares de afegãos trabalharam como intérpretes, guardas de segurança e auxiliares para as forças estrangeiras nos últimos 20 anos. Cerca de 18 mil pessoas se candidataram a receber o visto especial de imigrante dos Estados Unidos.
Antes de acolher os afegãos, porém, Washington pretende realocá-los para locais ainda indefinidos enquanto se desenrola toda a burocracia. Um número incerto já foi reassentado nos países para os quais trabalharam.
No início de junho, o Taleban emitiu comunicado pedindo que os colaboradores não tentassem deixar o país e assegurou que não agiria contra eles. “Eles não correrão nenhum perigo da nossa parte”, dizia o documento.
Os jihadistas, porém, deixaram clara sua insatisfação. “O Emirado Islâmico gostaria de informar a todas as pessoas que elas devem mostrar remorso por suas ações passadas e não devem se envolver em tais atividades no futuro, pois equivalem a traição contra o Islã e o país”.
Terror contra “traidores”
A organização não-governamental norte-americana No One Left Behind aponta que cerca de 300 civis que trabalharam como funcionários locais para as forças armadas dos EUA no Afeganistão foram mortos desde 2016.
O Taleban já classificou esses trabalhadores como “traidores” e “escravos”. A nota mais recente, porém, afirma que os civis só eram qualificados desta forma quando “operavam diretamente nas fileiras do inimigo”. “Mas quando eles abandonarem as fileiras inimigas e optarem por viver como afegãos comuns em sua terra natal, não enfrentarão nenhum problema”, diz o texto.
Um intérprete que trabalhou com as forças dos EUA entre 2018 e 2020 disse à AFP que os funcionários antigos e atuais já estão sendo rastreados. “O Taleban não nos perdoará. Eles vão nos decapitar”, disse.
Os EUA devem manter 650 soldados no Afeganistão após a retirada do contingente, mas com foco exclusivo na proteção de norte-americanos ligados ao corpo diplomático do país.
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