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quarta-feira, 23 de junho de 2021

Ataques via Twitter levam jornalistas à autocensura na América Latina, diz pesquisa

Os ataques online a jornalistas na América Latina têm levado esses profissionais – em especial as mulheres – a se autocensurem no Twitter, apontou a mais recente pesquisa sobre violência digital da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura).

O estudo, financiado pelo Programa Internacional para o Desenvolvimento da Comunicação, reúne relatos e análises das contas de 66 jornalistas que foram alvo de ataques online entre os meses de abril de 2019 e 2020 na Argentina, no México, na Colômbia, no Uruguai, no Paraguai, na Venezuela e na Nicarágua

Os resultados sugerem que o principal motivo dos ataques são as ideias políticas desses profissionais e, em menor medida, seu trabalho profissional. Na maioria dos casos, independentemente do sexo, os jornalistas são acusados de trabalhar para um lado político ou outro. 

Sob ataques online, maioria dos jornalistas da América Latina se autocensuram no Twitter
Jornalistas em cobertura de imprensa na Moldávia, 2020 (Foto: Divulgação/Unicef Moldova)

A análise relaciona esse fenômeno à especificidade do Twitter, dominado pelo conteúdo do debate político contemporâneo e à alta polarização na sociedade. 

Os ataques têm efeitos concretos contra o direito à liberdade de expressão. Cerca de 70% dos jornalistas entrevistados restringiram a frequência de suas postagens, retiraram-se temporariamente da rede social ou pararam de postar sobre questões que poderiam gerar ataques. 

A violência no Twitter também tem como consequência ataques em outros lugares. Cerca de 75% dos jornalistas entrevistados disseram que receberam ameaças ou ataques em outras redes sociais, em público ou por meio de seus telefones ou contas de e-mail. 

Muitos jornalistas criam estratégias pessoais, como retiradas temporárias ou seletivas, bloqueio de invasores ou limitação de leitura de notificações. A maioria deles entende que a violência faz parte das regras do jogo no Twitter, mas 95% afirmam ter sentido emoções negativas como raiva, medo ou vergonha como resultado dos ataques. 

Ausência de proteção e ataques por gênero

Ao mesmo tempo, 86% dos jornalistas entrevistados relataram que seus empregadores não lhes deram nenhum treinamento digital antes dos ataques. Para um quarto dos entrevistados, isso aconteceu posteriormente. Apenas 14,5% deles trabalhavam para meios de comunicação com protocolos de segurança digital.  

O estudo também mostrou que a violência digital difere de acordo com o gênero. Em relação aos homens, jornalistas mulheres enfrentam 10% mais ataques que questionam a capacidade mental. Os insultos a elas também têm maior incidência sexista (20%) e maior menção a sua aparência física (30%). Este indicador é duas vezes maior na Argentina e no Uruguai.  

As hashtags utilizadas para atacar jornalistas de sexo feminino incluem, em muitos casos, diminutivos de seus nomes, infantilizando-as, situação que não ocorreu em nenhum dos ataques a homens analisados ​​no âmbito do estudo. 

Nenhum dos homens foi submetido a abuso sexual baseado em tecnologia, mas isso aconteceu com 5% das mulheres. Elas relataram a violência no Twitter muito mais do que seus colegas homens: 71% contra 43% do sexo oposto. 

Ao mesmo tempo, elas também foram mais ativas na modificação de suas práticas digitais: 62%, contra apenas 43% dos homens. O estudo também mostrou que jornalistas, principalmente mulheres, sofrem ataques por cobrir questões feministas, como a legalização do aborto

Material adaptado do conteúdo publicado originalmente pela ONU News.

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