As seguidas derrotas diante do Taleban, especialmente no norte do Afeganistão, levaram o governo a armar voluntários civis na tentativa de combater o grupo jihadista, informou a Associated Press. O projeto foi batizado Mobilização Nacional.
“O fato de o governo ter feito o apelo às milícias é uma clara admissão do fracasso das forças de segurança”, diz Bill Roggio, do think thank norte-americano Fundação Pela Defesa da Democracia, que chamou a iniciativa de “ato de desespero”.
Os Estados Unidos já iniciaram a retirada de suas tropas do Afeganistão, num processo que se encerrará em 11 de setembro de maneira apenas simbólica. A evacuação deve ser concluída de fato bem antes do prazo estabelecido pelo presidente Joe Biden. Possivelmente em julho.
Sem o suporte estrangeiro, as forças locais tendem a perder cada vez mais terreno. “Os militares e a polícia afegãos abandonaram vários postos avançados, bases e centros distritais, e é difícil imaginar que essas milícias organizadas às pressas possam ter um desempenho melhor do que uma força de segurança organizada”, afirmou Roggio.
Conquistas estratégicas
O avança do Taleban no norte é especialmente preocupante porque a região oferece as melhores rotas para transportes de suprimentos. O grupo assume também o controle do principal acesso ao Tadjiquistão.
Os EUA e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) se comprometeram a pagar US$ 4 bilhões anuais ao governo, até 2024, para sustentar as forças de segurança afegãs. Mais que uma solução, porém, o dinheiro tornou-se um problema, devido às inúmeras acusações de corrupção.
Muitos policiais reclamam de vencimentos baixos e pagamentos com meses de atraso, enquanto oficias de alta patente e políticos são excessivamente bem remunerados. O salário de um policia gira em torno de US$ 152 (R$ 747) e pode atingir US$ 380 (R$ 1,8 mil) para alguns oficiais.
A possibilidade de remunerar as milícias só faz aumentar a insatisfação e a suspeita de corrupção. E ainda um risco extra: se os milicianos ficarem sem o pagamento prometido, podem se virar contra seus líderes e criar novos grupos paralelos para enfrentar o próprio governo. “Teríamos caos”, afirma Torek Farhadi, ex-conselheiro do governo afegão.
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