O principal líder do Taleban, Hibatullah Akhundzada, deixou a reclusão habitual e fez no último domingo (1º) seu primeiro discurso em público desde que o grupo radical assumiu o governo de fato do Afeganistão, no dia 15 de agosto de 2021. As informações são do jornal The Washington Times.
Ele aproveitou o feriado muçulmano do Eid al-Fitr, que marca o fim do jejum do Ramadã, o mês sagrado da fé islâmica, e falou a milhares de seguidores. O evento ocorreu em uma mesquita da cidade de Kandahar, segunda maior cidade afegã e centro do poder do Taleban.
“Parabéns por esta vitória, liberdade e sucesso”, disse ele, referindo-se à ascensão dos talibãs ao poder após a retirada das tropas norte-americanas e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), no ano passado.
Akhundzada assumiu a liderança do grupo radical em 2016, depois de os EUA anunciarem ter matado o antecessor, Mullah Mansour Akhtar. Em função do risco de ser morto, o atual chefe sempre adotou uma postura discreta, com raras aparições em público.
No evento de domingo, por exemplo, a segurança foi reforçada, e mesmo os jornalistas da principal emissora de televisão estatal afegã não puderam se aproximar do líder talibã para o registro de imagens. Uma das últimas aparições públicas que se tem registro ocorreu em novembro do ano passado, quando Akhundzada fez uma discreta visita a uma escola religiosa em Kandahar.
Por que isso importa?
Desde que chegou ao poder, o Taleban busca reconhecimento global como governo de direito do Afeganistão. Enquanto isso não ocorre, o país continua marginalizado da comunidade internacional, justamente em razão das acusações de abusos dos direitos humanos e da forte repressão, sobretudo contra mulheres.
Também pesam contra o grupo as acusações de proximidade com a Al-Qaeda, uma das principais organizações terroristas do mundo. Hibatullah Akhundzada, o principal líder talibã desde 2016, tem sido frequentemente acusado de ligação com os extremistas.
Um relatório publicado no início de fevereiro de 2022 pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) reforça essa suspeita, citando que a Al-Qaeda chegou a emitir um comunicado parabenizando o Taleban pela tomada do poder em agosto do ano passado.
Mais que legitimar os talibãs internacionalmente, o reconhecimento fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza. Em meio à crise profunda que os afegãos enfrentam, os Estados Unidos liberaram para ajuda humanitária., em fevereiro de 2022, US$ 3,5 bilhões em ativos congelados do Banco Central do Afeganistão em solo norte-americano.
Quando o governo afegão se dissolveu, com altos funcionários deixando o país, incluindo o presidente e o governador interino do banco central, deixou para trás pouco mais de US$ 7 bilhões em ativos depositados no Federal Reserve Bank dos EUA. Como não estava mais claro quem tinha autoridade legal para obter acesso a essa conta, o Fed tornou os fundos indisponíveis para saque.
Washington congelou os fundos afegãos mantidos nos EUA após o grupo islâmico ascender ao poder, em agosto do ano passado. Ultimamente, o governo Biden vinha sendo pressionado a disponibilizar o dinheiro sem reconhecer o regime do Taleban, que alega ser o dono do dinheiro. O valor, então, acabou liberado, com a outra metade destinada a pagar indenizações às vítimas dos ataques de 11 de setembro.
O Afeganistão tem mais US$ 2 bilhões em reservas, depositados em países como Reino Unido, Alemanha, Suíça e Emirados Árabes Unidos. A maioria desses fundos também está congelada. Autoridades norte-americanas relataram ter entrado em contato com aliados para detalhar sua iniciativa, mas Washington foi o primeiro a oferecer um plano sobre como usar os ativos congelados para auxiliar o povo afegão.
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