As rígidas barreiras sanitárias contra Covid-19 impostas na China travam o fluxo de mercadorias e geram transtornos à cadeia de suprimentos global. A afirmação foi feita nesta quarta-feira (18) pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Para ela, a desaceleração econômica da segunda potência mundial pode ter consequências globais e precisa ser um assunto priorizado. As informações são da agência Reuters.
Antes de participar de uma reunião dos ministros das Finanças do G7 em Bonn, na Alemanha, Yellen manifestou a repórteres sua preocupação com a lentidão econômica da nação asiática em meio às políticas de Covid Zero, que paralisaram por semanas os grandes centros financeiros e industriais locais.
“A China também parece estar experimentando uma desaceleração no crescimento. Como uma das maiores economias do mundo, o desempenho econômico chinês realmente tem impacto no crescimento em todo o mundo”, disse Yellen. “Então, esse é um fator que afeta as perspectivas globais, e estamos monitorando cuidadosamente o que acontece em Beijing e quais são suas respostas políticas”.
O lockdown severo na China teria deixado cidadãos sem comida em casa, prejudicando a produção e os gastos do consumidor. Tudo isso serviu para promover uma desaceleração econômica preocupante, que resultou em perda de confiança de empresas estrangeiras.
Interesses comuns
No Fórum Econômico de Bruxelas, onde a secretária do Tesouro norte-americana esteve um dia antes da agenda na Alemanha com o G7, a China também foi um assunto abordado, conforme repercutiu o governo dos EUA.
Na ocasião, ao mencionar que Washington tem razões para “perseguir objetivos comuns em conjunto, não unilateralmente”, em prol de uma uma economia global mais próspera, ela disse que há um interesse amplo em incentivar Beijing a se abster de práticas econômicas que desfavoreçam a todos.
“Essas práticas vão desde aquelas que afetam o comércio e o investimento, políticas de desenvolvimento e clima, até abordagens para fornecer alívio da dívida a países que enfrentam encargos de dívida insustentáveis”, observou Yellen. “Onde compartilhamos interesses comuns, todos devemos encontrar maneiras de nos envolver com a China e expressar nossos pontos de vista”.
Por que isso importa?
Artigo assinado pelo ex-primeiro-ministro da Austrália Kevin Rudd e publicado pelo The Wall Street Journal listou quatro pontos que retratam as dificuldades econômicas enfrentadas por Beijing atualmente.
As perspectivas econômicas da China parecem significativamente mais fracas que no início do ano, com o Fundo Monetário Internacional (FMI) cortando sua previsão de crescimento chinês para 4,4%, enquanto outros economistas preveem números abaixo de 4%. O capital está fugindo do país, com investidores estrangeiros despejando US$ 18 bilhões em títulos chineses e mais de US$ 7 bilhões em ações chinesas somente em março. O que aconteceu? Segundo Rudd, quatro coisas:
Primeiro, a crise no setor imobiliário da China, que representa até 29% do produto interno bruto (PIB), provou ser pior do que o esperado desde que a gigante imobiliária Evergrande entrou em default no ano passado. O contágio se espalhou, e pelo menos dez desenvolvedores chineses deixaram de pagar dívidas denominadas em dólares, assustando os investidores.
Em segundo lugar, a repressão de Xi ao setor de tecnologia da China ajudou a reduzir a capitalização de mercado das dez maiores empresas de tecnologia da China em mais de US$ 2 trilhões no ano passado. Essas empresas estão agora demitindo milhares de pessoas.
Terceiro, a invasão da Ucrânia pelo “melhor amigo do mundo” de Xi, Vladimir Putin, elevou os preços da energia e das commodities e enroscou as cadeias de suprimentos já prejudicadas pela pandemia. Essa é uma notícia terrível para o maior fabricante, exportador e economia consumidora de energia do mundo.
Quarto, há a insistência de Xi na estratégia de zero Covid da China, que levou a bloqueios em massa em cidades como Xangai. O presidente chinês declarou “vitória” sobre o vírus no ano passado, apostando sua reputação política em uma estratégia que declarou superior às empregadas pelo Ocidente.
Na visão do Partido Comunista Chinês (PCC), o líder nunca pode estar errado em nada, então Xi não pode mudar sua política de zero Covid – pelo menos não até que o 20º Congresso do partido, em novembro, seja concluído, com o presidente seja seguramente mantido no poder. Entretanto, cerca de 373 milhões de pessoas em 45 cidades estão sob algum tipo de bloqueio desde abril. Esses locais representam cerca de 40% da produção econômica total da China, ou cerca de US$ 7,2 trilhões em PIB anual.
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