O governo da Rússia tem torturado civis ucranianos em uma colônia penal no vilarejo de Olenivka, na região ucraniana ocupada de Donetsk. A denúncia foi feita pela ombudswoman Lyudmyla Denisova, autoridade em direitos humanos da Ucrânia, e reproduzida pela ONG Grupo de Proteção dos Direitos Humanos de Kharkiv (KHPG, na sigla em inglês).
De acordo com Denisova, quase 1,2 milhão de ucranianos foram levados para território russo, incluindo 200 mil crianças. Enquanto Moscou fala em “evacuação” e afirma que todos têm o direito de escolher aonde querem ir, há relatos de muitas pessoas levadas contra a vontade ou por engano.
No processo de triagem, as pessoas em poder de Moscou são obrigadas a tirar a roupa para que os agentes procurem eventuais tatuagens patrióticas ucranianas, e os telefones celulares são revistados em busca de contatos suspeitos.
Aqueles que não são aprovados acabam direcionados a território russo, como é o caso da autointitulada República Popular de Donetsk, na Ucrânia ocupada. Somente na Colônia Prisional Nº 52, em Olenivka, acredita-se que haja cerca de 3 mil civis, a maioria proveniente da cidade de Mairupol. Eles são obrigados a permanecer por no mínimo 36 dias no superlotado complexo, que tem capacidade para 850 pessoas.
“É na Nº 52 que eles colocam os parentes dos militares, ex-membros dos órgãos de aplicação da lei, ativistas cívicos e jornalistas, assim como qualquer pessoa considerada ‘suspeita’, por exemplo, por causa de tatuagens patrióticas”, diz a ONG.
A denúncia sugere que muitos civis são torturados e ameaçados de execução, com o objetivo de que colaborem com as autoridades russas. “Os detidos não recebem água ou comida suficientes e só são levados ao banheiro uma vez por dia”, de acordo com a KHPG.
Também há denúncias que muitas pessoas são torturadas ou ameaçadas para que gravem vídeos nos quais culpam soldados ucranianos por crimes atribuídos aos russos.
Há casos de pessoas libertadas depois de 36 dias, não sem antes serem forçadas a assinar documentos exigidos pelo governo russo. Mas também há relatos de pessoas que desaparecem depois do interrogatório, possivelmente levadas para Izolyatsia, uma notória casa de detenção de Donetsk.
Petro Andriushchenko, conselheiro do prefeito de Mariupol, usou o aplicativo de mensagens Telegram para publicar informações sobre outros dois “campos de filtragem”, esses nas aldeias de Bezimenne e Kozatske, igualmente em Donetsk. Ele diz que cerca de dois mil homens dos distritos de Huhlino, Myrny e Volonterivka foram mantidos contra sua vontade em condições terríveis por mais de um mês.
De acordo com Denisova, existem evidências de que essa deportação forçada foi planejada pelas autoridades russas antes do início da guerra, com ordens enviadas a diferentes distritos federais para que procedessem dessa maneira.
O massacre de Bucha
A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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