O Serviço Canadense de Inteligência de Segurança (CSIS, na sigla em inglês) entregou na última sexta-feira (6) ao Parlamento local seu relatório de segurança referente ao ano de 2021. O documento destaca, entre outras questões, o aumento da espionagem por parte de Rússia e China, que ocorrem também contra indivíduos e entidades do Canadá.
Ottawa destaca os principais métodos adotados pela inteligência estrangeira: manipulação de indivíduos para que compartilhem informações valiosas; cultivar amizade com figuras proeminentes de forma a obter informação; coerção, através de chantagem ou ameaça; pagamento de suborno; ataques cibernéticos contra sistemas digitais de interesse e campanhas de desinformação.
“Os alvos ativos dessas atividades incluem instituições em todos os níveis de governo, bem como organizações do setor privado, grupos da sociedade civil e comunidades canadenses”, diz o documento, que cita Moscou e Beijing como principais patrocinadores dessas operações de inteligência, tendo como alvo também nações estrangeiras, como a Ucrânia.
No que tange à China, o documento diz que o país muitas vezes faz uso de “indivíduos sem treinamento formal em inteligência que possuem conhecimentos relevantes no assunto”. São, por exemplo, cientistas e empresários recrutados por meio de programas de talentos estatais, como viagens patrocinadas e bolsas de estudo internacionais. Nesses casos, os beneficiários são posteriormente usados como espiões.
O Canadá destaca, ainda, os casos de interferência estrangeira em que figuras proeminentes da sociedade influenciam a tomada de decisões, controlando narrativas sobre questões de interesse de determinados Estados. Num caso que ilustra bem essas circunstâncias, o Reino Unido acusou, em janeiro deste ano, uma advogada baseada em Londres, Christine Ching Kui Lee, de “estabelecer ligações” para o Partido Comunista Chinês (PCC) com parlamentares britânicos.
A espionagem destacada pelo relatório, porém, nem sempre segue o formato tradicional. Um modelo bastante relevante reportado pelo CSIS é o das campanhas de desinformação, atualmente uma especialidade justamente de chineses e russos. Tais manifestações passaram a ser notadas especialmente desde março de 2020, tendo como tema a pandemia de Covid-19.
“As campanhas de desinformação patrocinadas pelo Estado representam um dos muitos exemplos de interferência estrangeira, e os Estados hostis têm espalhado ativamente a desinformação em um esforço para desacreditar nossas instituições governamentais, impactar negativamente a coesão social e ganhar influência para seus próprios objetivos estratégicos”, diz o texto.
No caso da Rússia, o principal alvo dos agentes de inteligência reportado pelo CSIS é a Ucrânia. “Essas atividades incluem a disseminação de desinformação e propaganda tentando pintar a Ucrânia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) como agressores no conflito atual. Tais medidas visam a influenciar os países ocidentais a acreditar que a Ucrânia provocou um conflito global”, afirma o relatório.
A censura é outra ferramenta estatal importante. Nesse caso, os alvos são comunidades estrangeiras no Canadá, atingidas por ciberataques através de redes sociais que visam a silenciar dissidentes. Nesse caso, é citado o exemplo do voo PS752, da Ukraine International Airlines, que caiu em 8 de janeiro de 2020 e matou todas as 176 pessoas a bordo.
Entre os mortos havia 55 cidadãos canadenses e 30 residentes permanentes no Canadá. Tanto Ottawa quanto Washington atribuíram a queda a um ataque da Guarda Revolucionária do Irã (IRGC). Depois do evento, familiares de vítimas relatam ter sofrido “assédio e intimidação de atores de ameaças ligados a representantes da República Islâmica do Irã. Esta atividade pode constituir interferência estrangeira”.
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