Em visita oficial ao Japão, o presidente dos EUA, Joe Biden, disse a repórteres nesta segunda-feira (23) que seria um aliado de Taiwan na hipótese de a China tentar assumir o controle da ilha semiautônoma. A declaração é tida como uma das mais fortes de um mandatário norte-americano em relação à espinhosa questão em décadas. Ao mesmo tempo, ele garantiu que seu governo está engajado em fazer frente às agressões de outro antigo rival: a Rússia. As informações são da rede CBS.
Biden participava de uma coletiva de imprensa em Tóquio acompanhado do premiê japonês Fumio Kishida, quando foi perguntado se “estaria disposto a se envolver militarmente para defender Taiwan”. A resposta foi lacônica e extremamente objetiva: “Sim”, disse o presidente.
O repórter insistiu: “Você está?”.
“Esse é o compromisso que assumimos”, respondeu Biden. “Concordamos com a política de ‘Uma só China’. Assinamos a política e todos os acordos que a partir daí foram feitos. Mas a ideia de que ela [Taiwan] poderia ser tomada pela força, apenas tomada pela força, simplesmente não é apropriada. Ela deslocará toda a região e será mais uma ação semelhante ao que aconteceu na Ucrânia. E por isso é um fardo ainda mais forte”.
Biden acrescentou que “a política dos EUA em relação a Taiwan não mudou em nada”, sublinhando o compromisso de seu governo com “a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan e assegurando que não haja nenhuma mudança unilateral no status quo“.
O líder democrata mencionou que não ver a China tentar tomar o poder de Taiwan por meios militares era algo dentro das suas “expectativas” e observou que isso irá depender “do quão forte o mundo deixa claro que esse tipo de ação vai resultar em desaprovação a longo prazo pelo resto da comunidade [internacional]”.
Sobre os recentes voos militares chineses no entorno da ilha, Biden definiu os atos como “flerte com o perigo”.
Em outubro de 2021, a China realizou uma incursão recorde em Taiwan, com 56 aeronaves das forças armadas chinesas invadindo o espaço aéreo do território taiwanês. No total, ao longo de quatro dias, Beijing enviou 149 caças. O episódio, classificado por Taipé como “irresponsável ação provocativa”, gerou reações de aliados ocidentais, entre eles EUA e França, e levou o governo taiwanês a intensificar seu projeto de fortalecimento militar.
A resposta de Beijing a Biden veio rápida e teve tom semelhante. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin, fez o alerta: “Ninguém deve subestimar a firme determinação, firme vontade e forte capacidade do povo chinês em defender a soberania nacional e a integridade territorial”, repercutiu a agência de notícias francesa AFP.
‘Barbárie na Ucrânia’
Biden também abordou o conflito no Leste Europeu durante a coletiva. Segundo ele, a Rússia “tem que pagar um preço a longo prazo” por sua “barbárie na Ucrânia“. E as penalidades, reiterou, vêm sob a forma de sanções contra Moscou por parte de Washington e seus aliados.
O chefe da Casa Branca também endereçou críticas ao presidente russo Vladimir Putin, a quem acusou de estar tentando “eliminar a identidade da Ucrânia”, já que “não pode ocupá-la”.
Biden também lançou o seguinte questionamento em forma de análise: “Se as sanções não continuarem a ser mantidas de muitas maneiras, então que sinal isso envia à China sobre o custo de tentar tomar Taiwan pela força?”.
Os EUA têm se recusado a se envolver diretamente com a guerra da Ucrânia. Em vez disso, fornecem ajuda militar e econômica para a nação arrasada pela guerra que completa três meses nesta terça (24).
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês. Diante da aproximação entre Taipé e Washington, desde 2020 a China endureceu a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos países do mundo, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.
O embate, porém, pode não terminar em confronto militar, e sim em um bloqueio total da ilha. É o que apontaram relatórios produzidos pelos EUA e por Taiwan em junho de 2021. O documento taiwanês pontua que Beijing não teria capacidade de lançar uma invasão em grande escala, justamente por se tratar de uma ilha. Já segundo o Pentágono, isso “provavelmente sobrecarregaria as forças armadas chinesas”.
Caso ocorresse, a escalada militar criaria um “risco político e militar significativo” para Beijing. Ainda assim, ambos os relatórios reconhecem que a China é capaz de bloquear Taiwan com cortes dos tráfegos aéreo e naval e das redes de informação. O bloqueio sufocaria a ilha, criando uma reação internacional semelhante àquela que seria causada por uma eventual ação militar.
Em artigo publicado em novembro, Michael Beckley e Hal Brands alertaram que o tempo está se esgotando para frear o ímpeto belicista chinês. “Os sinais de alerta históricos da China já estão piscando em vermelho. Na verdade, ter uma visão de longo prazo de por que e sob quais circunstâncias a China luta é a chave para entender o quão curto o tempo se tornou para os Estados Unidos e os outros países no caminho de Beijing”.
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