Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, em 24 de fevereiro, quase mil empresas ocidentais deixaram de operar em território russo, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral, conforme dados divulgados pela Universidade de Yale, nos EUA. Em vez de lamentar, o presidente russo Vladimir Putin disse na última quinta-feira (26) que o êxodo cria boas oportunidades para a economia de seu país. E prometeu que o espaço das companhias em fuga será ocupado por produtos russos, segundo a agência Reuters.
“Às vezes, quando você olha para aqueles que partem – graças a Deus, talvez? -, vamos ocupar seus nichos. Nosso negócio, nossa produção já cresceu e ficará segura no terreno preparado por nossos parceiros”, disse Putin durante uma videoconferência com líderes de outras ex-repúblicas soviéticas.
O presidente até brincou que, no final das contas, caso os russos queiram mesmo algum produto proveniente do Ocidente, darão um jeito. E citou os veículos Mercedes, segundo ele os preferidos dos criminosos do país logo após o fim da ex-União Soviética.
“Vai ser um pouco mais caro para eles”, disse o presidente. “Mas são pessoas que já dirigiram Mercedes 600 e ainda o farão. Posso garantir que os trarão de qualquer lugar, de qualquer país”.
A promessa ocidental de impedir o acesso da Rússia a artigos de tecnologia avançada também foi encarada com ceticismo. “Não vamos nos isolar disso. Eles querem nos espremer um pouco, mas no mundo moderno isso é simplesmente irreal, impossível”.
Na visão do líder russo, os efeitos das sanções ocidentais contra seu país refletem no Ocidente em proporção equivalente. Nesse sentido, citou a inflação global crescente e a crise de alimentos causada pelos bloqueios à produção e ao fornecimento na Rússia e na Ucrânia. Segundo ele, a solução já foi encontrada, substituindo os antigos fornecedores por novos, como Índia e China.
“Representantes de nossas empresas enfrentam problemas, é claro. Especialmente no campo das cadeias de suprimentos e transporte. Mas, no entanto, tudo pode ser ajustado, tudo pode ser construído de uma nova maneira”, disse Putin. “Não sem perdas em um determinado estágio, mas nos ajuda de certa forma a ficar mais fortes. De qualquer forma, estamos definitivamente adquirindo novas competências, estamos começando a concentrar nossos recursos econômicos, financeiros e administrativos em áreas de ruptura”.
McDonald’s à venda
Embora Putin festeje, a debandada cria problemas para o consumidor russo, privado de produtos em áreas diversas, como entretenimento, tecnologia, automobilístico, vestuário e alimentação. Sem falar na perspectiva de perda de empregos e no aumento dos preços, que o próprio Putin admitiu, em abril, estar na casa dos 17,5%.
Mas a previsão do presidente não é de todo utópica. Como mostra o caso do o caso do McDonald’s, que na semana passada chegou a um acordo para vender suas operações na Rússia ao empresário Aleksandr Govor. Ele assumirá todas as lojas no país e será autorizado a operá-las sob outra marca. E já conhece bem o negócio, vez que desde 2015 operava 25 restaurantes da rede na região da Sibéria.
Ao final do ano passado, a rede tinha 847 lojas na Rússia. Diferente do que ocorre no resto do mundo, onde habitualmente atua no sistema de franquias, 84% das lojas russas da rede de lanchonetes são operadas pela própria companhia. Somado ao faturamento na Ucrânia, a operação responde por 9% da receita global da empresa.
A Coca-Cola, outra que aderiu ao êxodo, também ganhou um substituto rapidamente. Isso porque um fabricante de bebidas local aproveitou o nicho de mercado e lançou uma nova linha de refrigerantes para substituir os rótulos icônicos que praticamente desapareceram das prateleiras.
No lugar do mais famoso refrigerante à base de cola do mundo, os consumidores russos passam a ter como alternativa a CoolCola, produzida pela Ochakovo, maior empresa do setor cervejeiro e não-alcoólico sem capital estrangeiro da Rússia, fundada em 1978 na antiga União Soviética. Os amantes da Fanta e da Sprite também ganharam seus clones: a Fancy e a Street, respectivamente.
Embora ainda seja possível encontrar as bebidas da Coca-Cola nas lojas, os preços tiveram um aumento vertiginoso de 200% desde que a gigante deixou o país em março.
Patentes “roubadas”
Um curioso fenômeno também pode ajudar o consumidor russo a compensar a fuga de empresas tradicionais. Desde o início do conflito, há pelo menos 50 casos de indivíduos que fizeram solicitações para registrar formalmente marcas famosas, como Coca-Cola, Mastercard e Nespresso.
Ao ingressarem com o pedido no escritório de patentes, os russos planejam faturar com o anúncio de que grandes marcas deixarão de produzir ou vender seus produtos no país.
Na maioria dos casos, o registro refere-se apenas à marca original, inclusive com pedidos referentes às respectivas logomarcas, como ocorreu com a Coca-Cola. Mas há também pessoas que buscaram soluções alternativas para tentar embolsar dinheiro.
Alguns dos registros solicitados são cópias de grandes nomes do mercado global. Por exemplo, a patente Nezpresso, que, assim como a original Nespresso, também visa a produzir cafeteiras e cápsulas de café, mas com a lera “z” no lugar do “s”. Na mesma situação se enquadra a Idea, uma cópia da loja sueca de móveis Ikea.
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