O governo da China, através do ministro das Relações Exteriores Wang Yi, anunciou na segunda-feira (30) que seu país não conseguiu firmar um acordo com dez nações insulares do Pacífico para estabelecer um pacto de segurança e comércio que foi debatido em uma reunião em Fiji. As informações são da rede CNN.
Beijing tem sido questionada por seu crescente interesse nas ilhas da região, o que levou Wang a se justificar. Segundo ele, a China também apoia os países em desenvolvimento na África, na Ásia e no Caribe, e agora chegou a vez do Pacífico.
“Não fiquem muito ansiosos e não fiquem muito nervosos, porque o desenvolvimento comum e a prosperidade da China e de todos os outros países em desenvolvimento significaria apenas grande harmonia, maior justiça e maior progresso de todo o mundo”, disse ele.
Um esboço do pacto foi enviado antes do encontro às nações convidadas. Entretanto, um documento vazado indica que ao menos um governo, o dos Estados Federados da Micronésia, manifestou oposição ao projeto. Também são parte dos debates Fiji, Samoa, Tonga, Kiribati, Papua Nova Guiné, Vanuatu, Ilhas Salomão, Niue e Vanuatu.
Embora tenha confirmado o desacerto entre as partes, Wang disse que novos debates serão travados na tentativa de aparar as arestas. Ele citou cinco áreas de cooperação, entre elas a recuperação econômica pós-pandemia, a criação de novos centros de agricultura e o combate a desastres naturais. Mas não fez qualquer menção à segurança.
O ministro afirmou, ainda, que a China divulgaria posteriormente documentos esclarecendo sua posição e suas propostas. E disse que “continuaremos a ter discussões e consultas contínuas e aprofundadas para formar mais consenso sobre a cooperação”.
Qian Bo, embaixador da China em Fiji, também afirmou que novas negociações vão ocorrer. “Houve um apoio geral dos dez países com os quais mantemos relações diplomáticas, mas é claro que há algumas preocupações em algumas questões específicas”.
Já o primeiro-ministro de Fiji, Frank Bainimarama, declarou que as nações do Pacífico buscam o consenso. “A pontuação geopolítica significa pouco para qualquer pessoa cuja comunidade está afundando no mar, cujo emprego está sendo perdido pela pandemia ou cuja família é impactada pelo rápido aumento no preço das commodities”, disse ele.
As Ilhas Salomão
O Indo-Pacífico tem preocupações com a influência da China, que aumentou vertiginosamente de uns tempos para cá. O ápice, até agora, é o pacto de segurança que Beijing firmou com as Ilhas Salomão e que gerou desconfiança e objeções de Austrália, EUA, Japão e Nova Zelândia
A preocupação dos aliados ocidentais com o acordo China-Salomão é o de que essa aproximação possa estremecer os acordos regionais de segurança e resulte na construção de uma base militar chinesa no Pacífico.
No entanto, o governo chinês rechaça essas alegações, sustentando que o acordo está concentrado na segurança, especialmente no suporte policial e militar, e que as críticas do Ocidente estão “interferindo na tomada de decisões soberanas das Ilha Salomão”.
Por que isso importa?
Um acordo regional de segurança e comércio entre a China e as ilhas do Pacífico representaria uma mudança no foco de Beijing em suas relações bilaterais com a região. É isso que causa preocupações entre os EUA e seus aliados.
O projeto prevê cooperação em redes de dados, segurança cibernética e sistemas alfandegários inteligentes. E propõe que as ilhas do Pacífico “adotem uma abordagem equilibrada ao progresso tecnológico, desenvolvimento econômico e proteção da segurança nacional”.
O acordo de cooperação também poderia abrir espaço para as redes 5G da gigante chinesa das telecomunicações Huawei, impedida de construir cabos submarinos ou de operar redes móveis nas ilhas do Pacífico pela Austrália e pelos EUA devido a alegações de espionagem em favor de Beijing.
O presidente dos Estados Federados da Micronésia, David Panuelo, aliado de Washington, mencionou a ameaça de as ilhas do Pacífico se envolverem em um conflito geopolítico ao passo que a atmosfera de turbulência entre os EUA e a China piora devido à questão Taiwan.
“Os impactos práticos, no entanto, do controle chinês sobre nossa infraestrutura de comunicações, nosso território oceânico e os recursos dentro deles, e nosso espaço de segurança, além dos impactos em nossa soberania, é que aumenta as chances de a China entrar em conflito com a Austrália, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia”, alertou.
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