Os legisladores da Ucrânia aprovaram por unanimidade, na terça-feira (10), uma resolução que declara a Rússia um “Estado terroristas” e que classifica as ações de Moscou na Ucrânia como genocídio. As informações são da rede Radio Free Europe.
Na resolução, o governo lituano também pede que seja estabelecida uma corte internacional para julgar os russos responsáveis por abusos cometidos contra os ucranianos. Algo nos moldes dos Julgamentos de Nuremberg, que colocaram no banco dos réus 24 acusados de crimes cometidos na Segunda Guerra Mundial pela Alemanha nazista.
“A Federação Russa, cujas forças armadas escolheram deliberada e sistematicamente alvos civis para bombardear, é o Estado que apoia e realiza atos de terrorismo”, diz a resolução parlamentar lituana, que ainda compara o presidente Vladimir Putin ao líder soviético Josef Stalin.
O documento ainda conclama “as Nações Unidas, o Parlamento Europeu, a Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa, a Assembleia Parlamentar da OSCE (OSCE), a Assembleia Parlamentar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), parlamentos e governos estrangeiros para reconhecer e processar o genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pela Rússia”.
No final de abril, o Parlamento do Canadá, igualmente em votação unânime, aprovou uma moção que também reconhece como genocídio as ações das tropas russas na Ucrânia. A legisladora Heather McPherson, que propôs a medida, diz que espera com a decisão pressionar o governo a agir de maneira mais incisiva contra a Rússia.
Os outros dois Estados bálticos, Letônia e Estônia, fizeram o mesmo no mês passado. Na ocasião, ambos, além da própria Lituânia, ainda baniram em seus países os símbolos usados pela Russia na guerra. Estão incluídos no veto as letras “Z” e “V”, que têm sido estampadas nos veículos militares, e a fita de São Gorge, um símbolo patriótico militar russo nas cores laranja e preto.
O massacre de Bucha
A pressão global por punições à Rússia, a suas tropas e ao presidente Putin aumentou consideravelmente depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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