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sexta-feira, 20 de maio de 2022

Taleban exige que apresentadoras de TV cubram o rosto durante os programas

O Taleban emitiu uma ordem às emissoras de televisão do Afeganistão para que todas as mulheres que apareçam no ar cubram o rosto durante a transmissão dos programas, deixando no máximo os olhos à mostra. A determinação partiu do Ministério Para a Promoção da Virtude e Prevenção do Vício, principal órgão da repressão talibã, de acordo com a agência catari Al Jazeera.

A ordem tem como base um decreto anunciado do dia 7 de maio que permite às mulheres exibirem apenas os olhos quando saírem às ruas, sempre usando as vestes islâmicas que as cobrem dos pés à cabeças. Embora os véus sejam habituais, nem todas as mulheres afegãs optam por cobrir o rosto, como exigem os talibãs.

Akif Muhajir, porta-voz do Ministério, confirmou que as emissoras foram informadas da exigência. Segundo ele, é obrigatório que as mulheres muçulmanas cubram seus rostos, e as apresentadoras de televisão devem servir como referência de comportamento para todas as afegãs. Ele inclusive sugeriu a possibilidade de uso de máscaras pelas apresentadoras de TV, algo que se tornou corriqueiro mundo afora devido à pandemia de Covid-19.

Uma jornalista em Maimana, no Afeganistão, conduz uma entrevista para um programa de rádio sobre agricultura (Foto: Knottleslie/Flickr)

A emissora afegã Tolo News disse através do Twitter que foi informada da nova regra pelo Taleban. “O Emirado Islâmico, em uma nova ordem, exigiu que todas as apresentadoras que trabalham em todos os canais de TV cubram seus rostos enquanto apresentarem programas”, diz o post, que classifica a ordem como um “veredicto final e não aberto a discussão”.

Protesto popular

No último dia 11 de maio, um grupo de aproximadamente dez mulheres desafiou o Taleban e realizou um protesto nas ruas de Cabul contra a obrigatoriedade do uso do jihab em espaços públicos.

As mulheres que foram ao protesto alegam ter sido ameaçadas pelos radicais. “Enfrentamos um comportamento severo do Taleban. Foi aterrorizante. Eles até nos disseram que, se déssemos um passo à frente, eles disparariam 30 tiros contra nós”, disse uma mulher em um vídeo atribuído ao grupo Movimento Feminino Poderoso do Afeganistão.

Em 2021, como forma de protesto contra as normas de vestimenta, mulheres afegãs em todo o mundo fizeram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

Por que isso importa?

As mulheres têm sido o principal alvo do regime radical dos talibãs desde a ascensão ao poder. Aquelas que tinham cargos no governo afegão no governo anterior foram impedidas de trabalhar, e a cúpula federal que prometia ser inclusiva é formada apenas por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista fechou as escolas para as meninas a partir do que, no Brasil, equivale à 6ª série do ensino fundamental. E determinou que só permitiria a volta delas aos estudos quando fosse estabelecido um código de vestimenta severo. Em meio à proibição, muitas meninas recorreram a uma instituição que ministra aulas online, a fim de não perderem o ano letivo ou interromperem os estudos.

Mulheres também não podem sair de casa nem viajar desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes erguem cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas foram proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

A proibição do esporte feminino é outra realidade sob o governo talibã. Embora o grupo extremista não tenha emitido uma nota oficial sobre o veto, ele se faz presente na rotina das atletas afegãs. Depois do críquete feminino, cuja proibição foi anunciada pelo vice-líder da comissão cultural do Taleban, Ahmadullah Wasiq, a repressão atingiu outra modalidade muito popular no país: o taekwondo.

O Afeganistão tem apenas duas medalhas olímpicas em sua história: dois bronzes conquistados pelo atleta do taekwondo Rohullah Nikpai em Beijing 2008 e Londres 2012. As conquistas de Nikpai no masculino popularizaram o esporte no país, inclusive entre as mulheres. Porém, com o Taleban no poder, a prática tem se restringido aos homens, e as escolas que ofereciam aulas de taekwondo para mulheres fecharam as portas ou passaram para a clandestinidade.

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