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terça-feira, 31 de maio de 2022

Iniciativa ambiental em Lisboa transforma restos de peixe em comida para animais

Restaurantes de culinária japonesa não podem utilizar todas as partes do peixe para produzir sushi e sashimi. Por isso, todos os dias, quilos e mais quilos de cabeças, espinhas e peles de peixes vão parar literalmente no lixo.  

Mas uma iniciativa em Lisboa, cidade de Portugal que será sede da Conferência dos Oceanos, em junho, está dando fim a este desperdício alimentar. A empreendedora Daria Demidenko teve a ideia de reaproveitar sobras de peixe fresco para criar petiscos para animais de estimação.  

No Sekai Sushi Bar, um restaurante japonês no bairro de Santos, região central de Lisboa, todas as manhãs, são entregues cerca de dez quilos de salmão, atum e de peixe branco.  

As mãos hábeis do sushiman Sunil Basnet rapidamente limpam e preparam uma corvina de quase 3 quilos, capturada no litoral português.  

O proprietário do Sekai, Édson Neves, explica que, em média, 30% dos peixes não podem ser utilizados nos pratos do restaurante: 

“A espinha dorsal, parte do rabo, as arestas, as laterais, a parte que tem ligação com o estômago, algumas partes do peixe que são mais duras, que têm mais fibras e pele também, nós acabamos não utilizando. Estes 30% a 40% que iriam para o lixo, nós acabamos reutilizando através do Sancho Pancho”, diz ele 

Petiscos saudáveis  

Sancho Pancho é a marca criada pela russa Daria Demidenko, que mora em Portugal desde 2015. O nome é uma alusão ao personagem Sancho Pança, do livro Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e também uma homenagem a um dos cachorros de Daria, o Pancho.  

A empreendedora destaca: é preciso muita criatividade para evitar o desperdício de alimentos.  

“Esses biscoitos são feitos com este tipo de peixe branco, que primeiro cozemos o peixe e depois trituramos, pois assim os ossos têm textura muito mais suave, então trituramos, misturamos com farinha e fazemos o biscoito. Mas também há outros tipos de desperdício, como peles de peixe branco ou peles de salmão, que têm uma imagem mais linda que dá para desidratar”, diz ela 

Sushi: são recolhidos, por mês, 100 kg de peixe que iam parar no lixo (Foto: Pixabay)
Escandinavos na vanguarda  

Além de pegar as sobras no restaurante Sekai, Daria tem parcerias com outros restaurantes e peixarias de Lisboa. Ela recolhe cerca de 25 quilos de sobras de peixe por semana, que iriam parar no lixo.  

A iniciativa é elogiada pelo especialista-sênior de Pesca da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), com sede em Roma, na Itália. Márcio Castro de Souza explica que já existem países europeus que aplicam uma política de desperdício zero de pescado.  

“É muito interessante essa iniciativa e de fato nós temos visto, não só na escala industrial, mas também pequenos exemplos de como reduzir o desperdício de pescado. Existem já várias indústrias produtoras de salmão nos países escandinavos que já atingiram o patamar de utilizar 100% do pescado. Eles não perdem nada do pescado. Eles fazem filé, utilizam o olho para fazer adubo ou para gerar óleos essenciais, então já existe toda uma produção voltada para zero desperdício”, diz ele. 

Conscientização dos consumidores  

Os petiscos com pele de salmão são ricos em ômega 3, que ajudam na saúde da pele e do pelo de cães e gatos. Além de reaproveitar sobras de pescado, a marca de Daria Demidenko produz biscoitos a partir de restos de carne desidratada de coelho e de porco. A criadora da Sancho Pancho conta já ter conseguido conscientizar muitos clientes.  

“Ouvimos falar, algumas pessoas, alguns clientes que dizem que com o nosso exemplo, estão agora indo às peixarias, aos talhos (açougues) aqui em Portugal e também levam algum desperdício. Não fazem produção, não fazem petiscos para venda, mas conseguem fazer alguma comida para os seus cães, gatos, ou para si mesmo”, conta a empreendedora 

Reduzir pela metade o desperdício de alimentos a nível mundial até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Outra meta envolve gerir de forma sustentável a vida marinha, sendo que Salvar os Oceanos e Proteger o Futuro é o lema da Conferência dos Oceanos da ONU, que acontece na capital portuguesa entre 27 de junho a 1 de julho.  

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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