Desde que assumiu o poder no Afeganistão, no dia 15 de agosto do ano passado, o Taleban alega ter derrotado o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) e tornado o país mais seguro para seus cidadãos. Entretanto, a recente ofensiva do grupo terrorista, que tem realizado seguidos e violentos ataques, derruba esse argumento e expõe a dificuldade que os talibãs têm para lidar com seu principal inimigo doméstico. As informações são da rede Gandhara.
A questão da segurança é um dos muitos problemas que os talibãs precisam solucionar no Afeganistão, também afetado por uma séria crise econômica e pelo isolamento internacional, fruto da falta de reconhecimento do grupo radical como governo oficial por parte das demais nações. Uma situação que vai na contramão dos argumentos do Taleban de que é uma força estabilizadora em um país duramente afetado por seguidas guerras.
“O principal objetivo do EI-K é impedir que o Taleban faça a transição de uma insurgência para um governo [funcional]”, disse Abdul Sayed, pesquisador sueco que acompanha o grupo jihadista. “O Taleban não pode formular uma política abrangente de contraterrorismo enquanto operar como uma insurgência e não se tornar um governo aceitável para os afegãos”.
Em seus discursos, o Taleban tenta vender uma imagem de estabilidade que não condiz com a realidade. “Sem dúvida, o Daesh (sigla em árabe do nome anteriormente usado pelo EI) foi derrotado e suprimido”, disse o porta-voz do Taleban Zabihullah Mujahid em abril, classificando as ações recentes do grupo jihadista como “sintomas de sua fraqueza e derrota”.
O problema é que esses ataques continuam a acontecer. Somente em abril, o EI-K reivindicou atentados mortíferos contra escolas e mesquitas, matando dezenas de pessoas. Há, ainda, casos e ações que deixaram outras dezenas de mortos e não foram oficialmente assumidas pelo grupo, embora carreguem suas características.
O antagonismo do EI-K em relação ao Taleban fica claro pelo aumento dos ataques terroristas desde agosto. Nos últimos quatro meses de 2021, a facção extremista realizou 119 atentados no Afeganistão, contra somente 39 do mesmo período em 2020. Desses, 96 ataques tiveram como alvo os próprios talibãs, contra apenas dois no ano anterior.
“Esses ataques visam a provar que a tomada do poder pelo Taleban foi um fracasso”, disse Sayed.
Por que isso importa?
Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.
Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.
Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.
No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.
Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.
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