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sexta-feira, 27 de maio de 2022

Soldados russos enviaram a seu país 58 toneladas de itens saqueados na Ucrânia, aponta investigação

Desde o início da guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro, soldados da Rússia enviaram para casa 58 toneladas de itens possivelmente saqueados. As suspeitas surgiram quando o jornalista belarusso Anton Motolko divulgou um vídeo no qual um oficial russo tenta despachar um drone militar em uma filial da empresa de logística CDEK. A partir dali, o site independente Mediazona realizou uma investigação que corroborou as suspeitas.

Em seu Twitter, Motolko postou imagens de um grupo de soldados russos na CDEK. As divisas sugerem que sejam do 56º Regimento de Ataque Aéreo da Guarda das Forças Armadas Russas, que está implantado na Crimeia. Os militares tentam despachar itens como uma máquina de lavar, aparelhos de ar condicionado split e um patinete elétrico.

Ao investigar o caso, o Mediazona constatou que houve um aumento injustificável no envio de itens desde algumas localidades da Ucrânia para a Rússia justamente no período da guerra. Também foram constatadas conexões incomuns entre cidades dos dois países.

A análise compreende 13 cidades e 46 filiais da CDEK ao longo da fronteira ucraniana com Rússia e Belarus, por onde as tropas de Moscou atravessaram para atacar o país vizinho. Devido ao fluxo habitualmente elevado, foram ignoradas encomendas enviadas às duas maiores cidades russas, Moscou e São Petesburgo.

Entre os itens enviados há tênis, comida enlatada, aparelhos de televisão, pneus de automóveis e até barracas. O primeiro vídeo divulgado por Motolko indica que não apenas os ucranianos tiveram seus bens saqueados. Um oficial russo enviou para casa um drone modelo Orlan-10, usado pelas tropas de Moscou, o que sugere que até o exército de Vladimir Putin é vítima de seus comandados.

O peso médio dos pacotes ajuda a identificar a origem das encomendas suspeitas. Moscou, por exemplo, tem encomendas leves, na média. Já cidades como Rubtsovsk, Yurga, Chebarkul e Miass têm envios que na média pesam até oito vezes mais.

Alguns eventos da guerra, cruzados com os dados das encomendas, reforçam a suspeita. A partir do momento em que as autoridades ucranianas anunciaram a retirada gradual das tropas russas da região de Kiev, em 29 de maço, o volume de encomendas saindo das imediações começou a crescer. Isso sugere que os soldados estavam enviando para casa o que haviam saqueado durante a ocupação.

Uma análise dos envios feitos na direção oposta, da Rússia para a Ucrânia, ajuda a descartar a hipótese de laços sociais entre pessoas dos dois pontos. Por exemplo, 5,8 toneladas chegaram à cidade russa de Yurga e apenas 51 quilos fizeram o caminho oposto. Para Chebarkul foram enviadas 5,5 toneladas, e somente 10 quilos voltaram.

Soldado das Tropas Aerotransportadas Russas, foto de maio de 2017 (Foto: Wikimedia Commons)
Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, mais de 600 empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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