A chinesa Huawei enfrenta desconfiança em todo o mundo, acusada de servir ao governo da China. Assim, foi proibida de marcar presença nas redes 5G de países como EUA, Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia e Portugal. No Brasil, entretanto, a empresa não apenas marca forte presença, como negocia novos acordos que se estendem à próxima geração de internet móvel, justamente a causa da preocupação internacional.
Atualmente, a Huawei diz que é responsável por mais de cem mil quilômetros de fibra óptica instalados no país, de acordo com conteúdo patrocinado publicado em portais e sites de jornais brasileiros, como O Globo, em maio de 2021.
E isso tende a aumentar com os novos projetos já anunciados. Entre eles, o de uma cidade inteligente em Curitiba, em parceria com a operadora TIM; outro de mineração inteligente em Minas Gerais, que envolve a mineradora chinesa Sul Americana de Metais; e, mais recentemente, um acordo com a provedora de serviços digitais Brisanet, no nordeste.
O acordo com a TIM foi anunciado em março, quando a operadora e a Huawei assinaram um memorando de entendimento para o desenvolvimento de uma cidade 5G em Curitiba. Foi o pontapé inicial para a criação da chamada “cidade inteligente”, conceito que define o uso da tecnologia da informação (TI) e comunicação por meio de redes de quinta geração para melhorar a qualidade de vida.
Com base em equipamentos fornecidos pela empresa chinesa, a operadora de telefonia implantará na capital paranaense a tecnologia massive MIMO (M-MIMO), que usa a emissão de sinal por múltiplas antenas para acelerar a troca de dados.
O acordo entre a Huawei e a Sul Americana de Metais (SAM), por sua vez, foi assinado em julho de 2020. Porém, ainda não foi colocado em prática porque a mineradora enfrenta uma série de obstáculos para iniciar o Projeto Bloco 8, orçado em US$ 3,5 bilhões e que envolve uma mina de minério de ferro, duas barragens de rejeitos e um mineroduto de 482 quilômetros ligando Minas Gerais à Bahia.
Com a mina em funcionamento, a parceria entre as duas companhias chinesas, Huawei e SAM, prevê o desenvolvimento de tecnologia de mineração inteligente não tripulada, de acordo com o jornal O Tempo.
“Precisaremos integrar enormes caminhões autônomos e equipamentos de controle remoto em um sistema de rede. Será necessário que máquinas imensas se comuniquem com o centro de comando, de forma eficiente e com baixa latência e operem com segurança em uma única cava”, disse Yongshi Jin, CEO da SAM.
O mais recente projeto da Huawei no Brasil a se tonar tornado público foi um acordo de cerca de R$ 230 milhões com a Brisanet, empresa do setor de telecomunicações que fornece serviços de banda larga, TV a cabo e telefonia em Estados do Nordeste brasileiro.
Pelo acordo, a empresa chinesa fornecerá estações rádio base (ERBs) a serem usadas para a futura rede 5G. No leilão do ano passado, a Brisanet comprou licenças regionais nas frequências 3,5 GHz e 2,3 GHz, para Nordeste e Centro Oeste. Embora não tenha participado diretamente do leilão, por não atuar como operadora de telefonia, a Huawei marcará presença na rede 5G justamente como fornecedora.
Na contramão da história
O aumento da presença da Huawei no Brasil vai na contramão da tendência global. A desconfiança que recai sobre a empresa é baseada em teorias sobre sua proximidade com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de suas declarações em contrário”. Diante disso, a empresa tem enfrentado crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países, que temem o uso da infraestrutura da companhia para espionagem.
As especulações referentes aos produtos de vigilância da Huawei ganharam força no final de 2021 em meio a temores na China e no mundo sobre as consequências do uso maciço do reconhecimento facial e de outros métodos de rastreamento biométrico. E, ao mesmo tempo em que o PCC continua a confiar em tais ferramentas para erradicar a dissidência e manter seu regime de partido único, ele alerta sobre o uso indevido de tecnologias no setor privado.
Em 2021, após pressão de Beijing, a Huawei e outros gigantes da tecnologia foram compelidas a não abusar do reconhecimento facial e de outras ferramentas de vigilância, após uma nova lei de proteção de dados pessoais entrar em vigor. Mas o veto vale apenas para o setor privado. No setor público, o jornal The Washington Post revelou em dezembro que a ligação da Huawei com o aparato chinês de vigilância governamental é maior que o imaginado.
Os dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava disponível no site da empresa e foi removida. Repleto de itens “confidenciais”, o arquivo mostra como a tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz, monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através do reconhecimento facial.
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