Aproximadamente 60% das exportações russas de petróleo e 75% das exportações russas de gás vão atualmente para a Europa, de acordo com a Energy Facts IEA. Para colocar um ponto final em tamanha dependência o quanto antes, a União Europeia (UE) tem em mente um aumento superlativo na geração de energia solar e eólica. As informações são do jornal britânico Guardian.
A Comissão Europeia apresentou um esboço do plano na quarta-feira (18), detalhando que, para tornar a energia verde uma realidade massiva entre os países do bloco, a UE precisará dispor de 210 bilhões de euros (cerca de R$ 1,09 trilhão) nos próximos cinco anos para custear a retirada gradual dos combustíveis fósseis que vêm da Rússia.
No entanto, de acordo com altos funcionários, os esforços para a eliminação do gás russo implicariam, a curto prazo, no uso de mais energia nuclear e carvão. Isso pode representar um passo para trás, já que, segundo a Europe Beyond Coal, a estimativa é que o mineral pare de ser usado no setor até 2030 na Europa. Portugal, Bélgica, Áustria e Suécia inclusive já pararam de queimar carvão, responsável por altas emissões de dióxido de carbono.
O processo de independência das exportações russas é uma resposta à invasão da Ucrânia, coordenada pelo presidente Vladimir Putin. Mas propõe, também, uma reflexão sobre a submissão do continente europeu ao gás russo – que tornou-se uma arma geopolítica –, bem como propõe atualizações para o pacto verde da UE, acordo que visa à redução das emissões de gases de efeito estufa em 55% até 2030, em comparação com os níveis de 1990.
A Comissão manifestou o desejo de ver 45% da geração de energia da UE vinda de fontes renováveis até 2030, o que representa um avanço em relação à atual meta de 40% sugerida em 2021. As autoridades também planejam diminuir o consumo de energia em 13% até 2030 (em comparação com 2020), mais que na atual proposta de economia de 9%.
“Está claro que precisamos acabar com essa dependência e muito mais rápido do que havíamos previsto antes desta guerra”, disse Frans Timmermans, funcionário da UE responsável pelo pacto verde.
Segundo ele, há uma grande diferença entre a UE buscar 210 bilhões de euros para investir em novas infraestruturas de energia, como parques eólicos e painéis solares, e gastar anualmente 100 bilhões em combustíveis fósseis russos.
“Acelerar a transição significa que o dinheiro pode ficar na Europa, pode ajudar a reduzir as contas de energia das famílias europeias e não será usado para financiar esta guerra bárbara na Ucrânia”.
‘O inverno está chegando’
A frase “o inverno está chegando” ficou famosa no seriado ‘Game of Thrones’. E, toda vez que vinha à tona, trazia consigo um mau prenúncio. A Europa vive tensão parecida em meio às questões com a Rússia.
É primavera no continente e, por ora, a ordem é desfrutar do sol e do clima ameno após meses congelantes. Mas a estação mais fria do ano já causa arrepios antes de começar, com os governos correndo contra o tempo após cancelarem o uso de gás natural russo, segundo a agência Associated Press (AP).
Temerosos, Alemanha e outros países de grande dependência do gás russo se opõem ao corte imediato.
A corrida europeia por energia concentrou-se em trazer GNL (gás natural liquefeito), com suprimentos aumentando para um recorde de 10,6 bilhões de metros cúbicos em abril. Mas há um longo caminho a percorrer, considerando que a Rússia enviava 155 bilhões de metros cúbicos de gás natural para a Europa anualmente antes da guerra.
Hoje, no contexto de um conflito que resultou no isolamento dos russos, a Europa quer reduzir em cerca de 100 bilhões de metros cúbicos o envio até o final do ano e, mesmo com tamanho decréscimo, ainda se manter aquecida neste inverno.
Na busca por esse objetivo, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi assinou um acordo em abril entre a empresa de energia italiana Eni e a Sonantrach da Argélia para aumentar o gás através de um gasoduto sob o Mar Mediterrâneo. A Eni disse que o acordo aumentaria os volumes ainda em 2022 e atingiria até 9 bilhões de metros cúbicos por ano entre 2023 e 2024.
Por que isso importa?
Segundo artigo assinado por Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), e Rajiv J. Shah, presidente da The Rockefeller Foundation, em vez de investir em tecnologia movida por combustíveis fósseis, como as usinas a carvão que irão acelerar a mudança climática, a o ideal é escolher um caminho melhor e mais verde.
Entre os projetos ricos em empregos, destacam-se o plantio de florestas e manguezais, os esforços de conservação do solo e a modernização de prédios para aumentar sua eficiência energética.
A construção de infraestrutura resiliente ao clima e a expansão do transporte público verde, das energias renováveis e das redes elétricas inteligentes também são essenciais. E o investimento em fontes renováveis fora da rede gera crescimento ao conectar parte das 3,5 bilhões de pessoas que atualmente não têm acesso a energia elétrica adequada.
O mundo precisa tirar proveito das últimas inovações tecnológicas, e já há ações em escala. A União Europeia se comprometeu a gastar mais de US$ 640 bilhões (550 bilhões de euros) em projetos verdes ao longo dos próximos anos. Países de mercados emergentes, como a Indonésia e o Egito, estão emitindo títulos verdes.
O chefe da ONU, António Guterres, disse que o mundo está atrasado na corrida para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, cuja meta final é zerar as emissões de dióxido de carbono até 2050.
Em todo o mundo, quase 760 milhões de pessoas não têm acesso à eletricidade e 2,6 bilhões continuam utilizando carvão e madeira para cozinhar, prática que não somente gera mais emissões de carbono como também causa 4 milhões de mortes todos os anos por causa da fumaça em ambientes fechados.
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