A Rússia é acusada de incitar o genocídio e perpetrar atrocidades, conforme relatório assinado por estudiosos independentes e especialistas em direitos humanos divulgado na sexta-feira (27). O documento aponta que Moscou tem a “intenção de destruir” o povo ucraniano. As informações são do portal Axios.
O estudo, conduzido por 33 analistas e publicado pelo think tank de Washington New Lines Institute for Strategy and Policy e pelo Centro Raoul Wallenberg para os Direitos Humanos, destaca “um risco muito sério de genocídio”, e a comunidade internacional tem a obrigação legal de evitá-lo.
O relatório se baseia em evidências coletadas para afirmar que a Rússia violou a Convenção do Genocídio da ONU (Organização das Nações Unidas), um tratado do qual Moscou e Kiev são parte. Nele, estão detalhados o incitamento russo ao genocídio, intenção genocida e um “padrão genocida de destruição visando a os ucranianos”.
De acordo com a Convenção da Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 1948, o extermínio de civis é definido como “atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso”. Tais ações incluem assassinatos e danos físicos ou mentais graves.
O documento sustenta que há um “padrão genocida de destruição contra ucranianos” estabelecido na Ucrânia, fazendo menção a assassinatos em massa, ataques coordenados contra abrigos, rotas de evacuação e corredores humanitários, destruição de infraestrutura vital, incluindo assistência médica, relatos de violência sexual e a transferência forçada de ucranianos, incluindo milhares de crianças.
Os autores do estudo também observam que o Kremlin celebra tais atos, como o episódio em que Vladimir Putin concedeu título honorário de “Guardas” a 64ª Brigada Independente de Fuzileiros Motorizados, acusada de cometer crimes de guerra na cidade ucraniana de Bucha. O decreto assinado pelo presidente russo destaca o “heroísmo e coragem pela força e méritos demonstrados pela brigada em combate para defender a Pátria e os interesses do Estado em condições de conflito armado”.
Outro apontamento feito pelo relatório é o de que há “motivos razoáveis para concluir” que os russos são responsáveis pela “incitação direta e pública para cometer genocídio”. Foram citadas autoridades russas de alto escalão e comentaristas da mídia estatal que negam a existência de uma identidade ucraniana, justificando as atrocidades por meio de propaganda que desumaniza a população local.
A Rússia é acusada de diversos crimes de guerra contra civis ucranianos. Na última quinta-feira (26), dois soldados russos capturados declararam-se culpados. Alexander Bobikin e Alexander Ivanov foram réus no segundo julgamento do gênero desde o início do conflito. Antes deles, Vadim Shishimarin, primeiro militar a enfrentar processo do gênero na Ucrânia, foi sentenciado à prisão perpétua por matar um civil desarmado.
A ONU atualizou o número de baixas no conflito. Até a quinta (26), foram registradas oficialmente 8.766 vítimas civis em todo o país: 4.031 mortos e 4.735 feridos. Os números foram divulgados na sexta (27) pelo ACNUDH (Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos).
O massacre de Bucha
A pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin aumentou bastante depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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