A proibição do Twitter na Nigéria, anunciada no último sábado (5), deve afastar investidores em tecnologia do país, disse Joachim MacEbong, analista da empresa de análise de risco político SBM Intelligence, baseada em Lagos, à agência catari Al-Jazeera.
Segundo ele, a tendência é que big techs que buscavam expandir seus negócios na África se voltem para Gana – a mais recente sede africana do Twitter. A possibilidade de acesso é mais relevante que o número de usuários. Pelo menos 39 milhões de nigerianos têm uma conta na rede social – mais que toda a população ganense, de 32 milhões.
Pouco antes da inauguração, em abril, a empresa descreveu Gana como um “campeão da democracia, defensor da liberdade de expressão, liberdade online e internet aberta”. “Eles provaram que estavam certos”, disse MacEbong.
Conforme Gbenga Sesan, diretora do think tank pan-africano Paradigm Initiative, a suspensão envia um “sinal errado” aos investidores estrangeiros. Além disso, as pequenas empresas que usam o Twitter como fonte de sustento serão as mais afetadas.
“As empresas na Nigéria usam a mídia digital para alcançar clientes, expor suas marcas e se comunicar com várias partes interessadas. Essa decisão provavelmente irá afetá-las”, estimou.
A ordem de suspender todas as atividades do Twitter veio do presidente Muhammadu Buhari, que acusou a plataforma de fazer “uso persistente de atividades capazes de minar a existência corporativa da Nigéria”.
Poucos dias antes, a big tech excluiu um tuíte de Buhari por violação às regras da comunidade. A proibição tem relação com os planos do governo para regulamentar as mídias sociais no país. Um Conselho Nacional de Informação (NCI) foi imposto ainda em 2017 para este fim.
Repressão crescente
Em 2019, Abuja determinou que serviços de internet, como WhatsApp, Zoom, Netflix e Skype, teriam que obter licenças para operar no país. “Claramente, a proibição é uma tentativa de regulamentação”, disse MacEbong. “Estão mostrando como estão preparados para reprimir a liberdade democrática. Os próximos anos serão difíceis”.
Articulador do golpe da Nigéria em 1983, Buhari voltou ao poder em 2015, quando foi eleito presidente. À época, usou as redes sociais – em especial o Twitter – como parte da estratégia para ser retratado como um “democrata convertido”.
A diluição da imagem não demorou. Sob Buhari, a Nigéria passou a viver sob leis que permitem ao governo prender qualquer jornalista ou civil acusado de “embaraçar” o presidente. Vários jornalistas foram presos ou acusados de traição, enquanto o país caiu para o 120º lugar entre os 180 países do Índice Mundial de Liberdade de Imprensa.
Enquanto isso, usuários buscam formas de voltar a acessar a plataforma. Uma possibilidade é o uso de VPNs – uma rede virtual privada que não monitora endereços de IPs. Em resposta, o gabinete do procurador-geral nigeriano ordenou que sejam judicialmente processados todos os cidadãos que tentarem contornar a proibição.
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