As denúncias de estupros cometidos por soldados da Rússia durante a guerra, feitas na quarta-feira (4) pela procuradora geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, chegaram à ONU (Organização das Nações Unidas). Dezenas de casos estão sob investigação, e alguns deles têm como vítimas homens e meninos, não apenas mulheres e meninas. As informações são do jornal britânico Daily Mail.
Pramila Patten, representante especial da ONU sobre violência sexual na guerra, está em Kiev, de onde confirmou as denúncias que ela classificou como “apenas a ponta do iceberg”, dando a entender que muitos outros casos surgirão. “Recebi relatórios, ainda não verificados, de casos de violência sexual contra homens e meninos na Ucrânia”, disse.
Segundo Patten, de forma a buscar a punição dos estupradores, é fundamental que as vítimas se apresentem e estejam dispostas a testemunhar, por mais que temam represálias por parte dos soldados russos que ainda ocupam o território ucraniano.
“É difícil para mulheres e meninas denunciar por causa do estigma, entre outras razões, mas muitas vezes é ainda mais difícil para homens e meninos denunciar”, disse Patten. “Temos que criar esse espaço seguro para que todas as vítimas denunciem casos de violência sexual”.
Assim como havia feito Venediktova, a representante da ONU afirmou que o estupro tronou-se uma arma de guerra. Não apenas na Ucrânia, mas em todo o mundo. E uma arma “barata”, nas palavras dela. “E muito eficaz, porque não afeta apenas a vítima, afeta famílias inteiras, as comunidades. É uma guerra biológica. É uma guerra psicológica”, afirmou.
Ao fazer a mesma denúncia que o estupro é parte da tática russa, a procuradora geral ucraniana ainda reforçou a posição de que o presidente Vladimir Putin deve ser responsabilizado pelas ações de seus militares, vez que as forças armadas russas respondem às ordens dele.
“Putin é o principal criminoso de guerra do século 21”, disse ela, responsabilizando o líder russo também pelas intervenções militares na Geórgia, na Chechênia, na Síria e na Crimeia. “Se falarmos sobre crimes de agressão, todos sabemos quem começou esta guerra, e essa pessoa é Vladimir Putin”.
Denuncias por telefone
Segundo Lyudmyla Denisova, Ombudswoman de Direitos Humanos na Ucrânia, uma linha telefônica aberta em parceria com o Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) para receber denúncias de estupro recebeu 400 ligações em apenas duas semanas. Ela afirmou que a linha estava tão sobrecarregada que os cinco psicólogos que atuam nela “não conseguem lidar com a carga”.
“Pedi ao Unicef para quase dobrar o número de psicólogos, para garantir que o atendimento seja de boa qualidade e que não haja esgotamento, inclusive daqueles psicólogos que recebem esses apelos dia e noite. E esses casos são muito terríveis”, afirmou a Ombudswoman.
Quanto aos casos de abuso sexual documentados, ela afirma que, somente na cidade de Bucha, palco de um massacre comandado por tropas russas, há 25 relatos de mulheres que foram mantidas em cativeiro por militares invasores e estupradas sistematicamente. As idades delas variam entre 14 e 25 anos. Nove delas estão gravidas, segundo Denisova.
O massacre de Bucha
A pressão global por punições à Rússia, a suas tropas e ao presidente Putin aumentou consideravelmente depois que os corpos de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.
As fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta no Twitter.
Moscou, por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram, o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso em Mariupol com a maternidade“.
Entretanto, imagens de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.
Mais recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de crimes.
Vadym Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar, um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas, essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O maior crime de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que pudermos para impedir o genocídio”.
Os mortos de Putin
Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.
A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.
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