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terça-feira, 3 de maio de 2022

Israel exige retratação após comentários de ministro russo sobre o nazismo

Israel, um dos poucos países que ainda mantém relação cordial com a Rússia em meio à guerra na Ucrânia, cobrou uma retratação de Moscou após comentários do ministro das Relações Exteriores Sergei Lavrov sobre o nazismo, na segunda-feira (2). As informações são do jornal The Washington Post.

Ao justificar as ações russas na Ucrânia, Lavrov afirmou que o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky apoia o nazismo, em consonância com a justificativa do presidente Vladimir Putin de lançar uma “operação militar especial” no país vizinho para “desnazificá-lo“.

“Quando eles dizem: ‘Que tipo de nazificação é isso se somos judeus?'”, questionou Lavrov, em entrevista à emissora italiana Rete 4, falando por meio de um intérprete italiano. “E daí se Zelensky é judeu? Bem, acho que Hitler também tinha origens judaicas, então isso não significa nada. Há muito tempo, ouvimos o sábio povo judeu dizer que os maiores antissemitas são os próprios judeus”.

Em resposta, o primeiro-ministro israelense Naftali Bennett publicou um comunicado no qual afirmou que as “palavras de Lavrov são falsas, e suas intenções estão erradas”.

“O objetivo de tais mentiras é acusar os próprios judeus dos crimes mais terríveis da história, que foram perpetrados contra eles, e assim absolver os inimigos de Israel de responsabilidade”, disse o premiê. “O uso do Holocausto do povo judeu como ferramenta política deve cessar imediatamente”.

Naftali Bennett, premiê de Israel, e Vladimir Putin, presidente da Rússia, outubro de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

Ao tomar conhecimento da fala de Lavrov, seu homólogo israelense, Yair Lapid, disse que o embaixador da Rússia em Israel seria formalmente convocado para explicar os comentários. E disse que exigiria um pedido de desculpas do governo russo por usar um argumento desacreditado, de que Hitler tinha ascendência judaica.

Lapid usou seu perfil no Twitter para comentar. “As observações do ministro das Relações Exteriores Lavrov são uma declaração imperdoável e ultrajante, bem como um terrível erro histórico. Os judeus não se mataram no Holocausto. O nível mais baixo de racismo contra os judeus é acusar os próprios judeus de antissemitismo”, disse ele.

Por sua vez, o vice-ministro da Economia e Indústria de Israel, Yair Golan, disse deixou claro que a manifestação de Lavrov compromete ainda mais as relações entre os dois governos, que nas últimas semanas têm se tornado cada vez menos cordiais. Em entrevista a uma rádio de Israel, , ele disse que as palavras do ministro refletem “o que o regime russo realmente é: um regime violento que não hesita em acabar com seus rivais por dentro, invadir um país estrangeiro e acusá-lo de reviver o nazismo”.

Por que isso importa?

Nos últimos meses, Israel deixou o tom isento de lado e passou a condenar abertamente a Rússia pela invasão à Ucrânia. Se o primeiro-ministro Naftali Bennett ainda tenta mantém o tom comedido, de olho principalmente nos acordos de segurança entre as duas nações, importantes membros de seu governo passaram a usar a expressão “crimes de guerra” e a acusar explicitamente as tropas russas

Yair Lapid foi um que abandonou a diplomacia após o massacre da cidade de Bucha. “As imagens e os testemunhos da Ucrânia são horríveis. As forças russas cometeram crimes de guerra contra uma população civil indefesa. Condeno veementemente esses crimes de guerra”, disse ele em comunicado oficial no início de abril.

Também por conta de Bucha, o ministro da Saúde Nitzan Horowitz foi outro que apontou o dedo diretamente para Moscou. “É muito difícil ver as fotos do massacre em Bucha. Mas não se deve desviar o olhar, nem desviar a atenção dos crimes de guerra cometidos pela Rússia. Um crime contra a humanidade, contra a liberdade, os direitos humanos e todo o mundo democrático”, disse ele no Twitter.

Horowitz fez os comentários em 4 de abril diretamente da Ucrânia, onde visitou um hospital de campanha estabelecido por Israel. Além de condenar as atrocidades em Bucha, atribuídas por ele aos russos, o ministro destacou o apoio de seu país aos ucranianos. “Continuaremos alcançando o povo ucraniano. Este é nosso dever moral diante da brutal invasão russa, diante dos massacres e crimes de guerra que ocorrem nesta terra”.

Uma atitude que deixa clarou a mudança de foco de Israel foi o voto do país na ONU (Organização das Nações Unidas) para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos. A atitude irritou a Rússia, que a classificou como tentativa de distrair o mundo do conflito israelense-palestino não resolvido.

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