Um relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU (Organização das Nações Unidas) aponta que a penitenciária de Jau, conhecida por manter os presos políticos de Bahrein, ocultou um surto de Covid-19 entre fevereiro e março.
Enquanto a administração anunciou apenas três contágios pelo vírus, ativistas e familiares confirmaram que 84 detentos testaram positivo para Covid-19 no período. “Isso mostra que a administração ocultou ativamente os números reais”, diz o documento.
O governo do país do Oriente Médio pode ter escondido os casos para evitar um escândalo dias antes do grande prêmio de Fórmula 1, realizado em Manama entre 26 e 27 de março, segundo o relatório.
Apesar de o site do Ministério da Saúde relatar todos os casos de Covid-19 do país, ativistas denunciam que os dados sobre prisioneiros de Jau são “restritos”. As informações aos familiares dos detidos também costumam ficar sob sigilo.
As poucas informações disponíveis sugerem que os contaminados em estado crítico foram transferidos para um edifício de isolamento e um hospital local. Um dos internados seria o xeque e clérigo xiita Hasan Isa, preso por perseguição política e religiosa.
Também há relatos de detentos em estado grave deixados em confinamento solitário e sem tratamento médico. Construída para abrigar até 1,2 mil presos, a Prisão de Jau já possui mais de 2,7 mil presidiários.
O surto teria acontecido na Ala 21, onde estão 478 presos – 33% acima da capacidade. Relatos recentes também apontam contágios nas alas 13, 14 e 23. Conforme o relatório, as medidas para evitar a contaminação por Covid-19 na prisão de Jau foram “contraproducentes em vários níveis”.
Tratamento desumano
A total ausência de higiene e restrição dos detentos às celas, sem qualquer ventilação, fez com que o vírus se propagasse rapidamente. Os presos só podem sair de suas celas durante 15 minutos por dia.
Conhecida pelas torturas, fome, condições desumanas e negação sistemática ao atendimento médico, a prisão de Jau “tira proveito” da pandemia para aprofundar o péssimo atendimento dado aos presos políticos de Bahrein, disse o relatório.
Questionada, a autoridade estadual de Bahrein afirmou que os presos já estão “sendo tratados humanamente” e receberam permissão de manter contato com suas famílias. O número de contágios, porém, foi omitido. “Todos os reclusos infectados receberam os cuidados médicos necessários”, disse a diretora do Instituto de Direitos Humanos, Maria Khoury.
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