Os cidadãos afegãos que trabalharam para forças estrangeiras no país estarão seguros, mas para isso precisam “mostrar remorso”, disse o Taleban em comunicado ao qual teve acesso a agência catari Al-Jazeera nesta segunda (7). O grupo pediu que esses civis não tentem deixar o país.
“Eles não correrão nenhum perigo da nossa parte”, diz o documento. “O Emirado Islâmico gostaria de informar a todas as pessoas que elas devem mostrar remorso por suas ações passadas e não devem se envolver em tais atividades no futuro, pois equivalem a traição contra o Islã e o país”.
A declaração ocorre em meio à retirada das forças dos EUA e da Otan (Organização do Tratado Atlântico Norte) do Afeganistão. O prazo, previsto anteriormente para encerrar em fevereiro, foi estendido até 11 de setembro.
Milhares de afegãos trabalharam como intérpretes, guardas de segurança e auxiliares para as forças estrangeiras nos últimos 20 anos. Eles temem retaliação do Taleban após a saída das tropas.
Pelo menos 18 mil afegãos já solicitaram vistos especiais para deixar o país, disse a embaixada dos EUA em Cabul. Um número incerto já foi reassentado nos países para os quais trabalharam.
Terrorismo contra ex-funcionários
A organização não-governamental norte-americana No One Left Behind aponta que cerca de 300 civis que trabalharam como funcionários locais para as forças armadas dos EUA no Afeganistão foram mortos desde 2016.
O Taleban já classificou esses trabalhadores como “traidores” e “escravos”. A nota mais recente, porém, afirma que os civis só eram qualificados desta forma quando “operavam diretamente nas fileiras dos inimigos”. “Mas quando eles abandonarem as fileiras inimigas e optarem por viver como afegãos comuns em sua terra natal, não enfrentarão nenhum problema”, diz o texto.
Um ex-intérprete que trabalhou com as forças dos EUA entre 2018 e 2020 disse à AFP que os funcionários antigos e atuais já estão sendo rastreados. “O Taleban não nos perdoará. Eles vão nos decapitar”, disse.
Mais de 2,3 mil militares norte-americanos morreram na guerra do Afeganistão – a mais longa dos EUA. O envio das tropas ao país moldou a característica da política externa dos EUA com o então presidente George W. Bush após os ataques terroristas de 11 de setembro.
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