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sábado, 3 de outubro de 2020

Reunificação da Alemanha faz 30 anos e mantém desafio de integrar leste e oeste

Em 3 de outubro de 1990, as Alemanhas, ocidental e oriental, foram formalmente reunificadas. A meta do país que renascia era promover rápido crescimento de sua porção leste, após quase quatro décadas de isolamento do lado de lá da Cortina de Ferro.

Essa missão foi apenas parcialmente cumprida até agora. Para os 12,6 milhões de alemães que vivem no que era a porção comunista do país, a desigualdade ante a outra metade diminuiu, mas ainda é perceptível.

Ali, o desemprego em 2019 era de 6,4%, ante 4,8% no oeste. A renda per capita, US$ 32,1 mil – contra US$ 42,9 mil na porção ocidental.

As bandeiras dos estados alemães em frente ao Parlamento no dia da oficialização da reunificação, 3 de outubro de 1990 (Foto: Domínio Público/Bundestag)

A atividade econômica do leste já representa 75% da capacidade da porção ocidental país, segundo o relatório anual do governo alemão sobre a reintegração. Mas ainda há desafios de ordem cultural e social a serem resolvidos entre esses dois países, unidos em um só.

Distintos mas semelhantes

O motivo do descompasso entre as duas regiões varia, de acordo com o matiz ideológico de quem responde a pergunta. Para os ocidentais, a razão é a desindustrialização e do planejamento e centralização da economia, típica de regimes comunistas.

Para os teóricos da antiga RDA (República Democrática da Alemanha), o choque de capitalismo imposto após a reunificação não permitiu que a economia se acomodasse na velocidade adequada. Entre as medidas estavam a liberação total do sistema de preços e do comércio.

Mensagem no muro diz “Obrigado, Gorbi!”, ao líder soviético Mikhail Gorbachev, responsável direto pela queda do bloco comunista a partir de 1989 (Foto: RIA Novosti/Creative Commons)

A população também distingue a procedência dos cidadãos com os apelidos “wessi”, para os ocidentais, e “ossi”, para os orientais.

A quem vem do oeste, a diferença seria a cultura de forte competição e individualismo – chamada de ellenbogengesellschaft, ou “sociedade do cotovelo”. No leste, o estereótipo era o de uma cultura acomodada e indolente.

O período foi supervisionado pelo chanceler Helmut Kohl, que assume o cargo em 1982 e só o deixa em 1998. Defensor ferrenho da União Europeia, foi também o mentor da atual chefe de Governo alemã, Angela Merkel, doutora em química e nascida no leste.

Novas forças políticas

Para um número cada vez maior de alemães do leste, a solução estaria nas propostas iliberais, eurocéticas e anti-imigração do AfD, ou Alternativa para a Alemanha. Fundado em 2013, o partido já é a maior força de oposição no Bundestag, o Parlamento germânico.

Em pleitos regionais, é nos estados do leste, como a Turíngia, onde o grupo tem crescido com maior velocidade. Ali, o partido de clara orientação populista de direita recebeu 23% dos votos. Apenas cinco anos antes, era de 13%. O aumento também foi identificado na Lusácia e na Saxônia.

O “Nerdologia”, do professor de história internacional Filipe Figueiredo, explica a reunificação alemã (Vídeo: Nerdologia/YouTube)

O AfD também goza de melhor reputação no leste do país, segundo pesquisa de 2019 do Pew Research Center. Um em cada quatro eleitores da porção oriental do país tem boa impressão do partido, contra apenas 12% antiga Alemanha Ocidental.

Na região oriental, apenas 5% da população é estrangeira e há relativa resistência a valores cosmopolitas, inacessíveis nos anos de Cortina de Ferro.

A exceção é a capital Berlim, dividida no pós-guerra entre potências comunistas e capitalistas e com um Muro que partiu-a no meio entre 1961 e 1989. Em todo o país, a média é de 12% de imigrantes.

Depois de 30 anos de reabertura, as soluções do governo alemão para nivelar as duas porções do país passam por maciços investimentos. Segundo o relatório do governo, há novas iniciativas nas indústrias de mobilidade limpa e inteligência artificial, entre outros exemplos.

Há também políticas públicas de incentivo ao empreendedorismo e instalação de plantas como a da Tesla, próxima a Berlim. A meta é, além de igualar leste e oeste em termos de riqueza, diminuir a fuga de cérebros que gera migração para a porção ocidental e países vizinhos, como a Áustria.

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