A âncora do dólar pode representar estabilidade monetária para países latinos como El Salvador, Equador e Panamá – mas, a longo prazo, os efeitos podem ser negativos, apontou o economista Pablo Dávalos, professor da Universidade Andina Simón Bolívar, à BBC.
Segundo o economista, a dolarização terá um custo social “gigantesco”, como já ocorre no Equador e em El Salvador.
Os países passaram a utilizar a moeda norte-americana em 2000 e 2001, respectivamente, e desde então viram os preços domésticos dos produtos se tornarem caros para a própria população.
Em consequência, alguns bens de consumo se tornaram inacessíveis a grande parte da população e a desigualdade estrutural se consolidou nesses países.
Outro ponto negativo é a quase total destruição da indústria local e, como efeito direto, a oferta de empregos. “Os países dolarizados tornaram-se economias importadoras de produtos”, explicou Dávalos.
O Panamá, por outro lado, que usa o dólar desde a sua independência, em 1904, se tornou um “paraíso fiscal onde todos os criminosos do mundo têm suas contas”, completou o economista.
Possíveis vantagens
O dólar, contudo, também garante aos países latinos uma saída ao risco de desvalorização repentina e profunda – uma possibilidade real em todas as nações da América Latina. “A dolarização causou um efeito de estabilidade de preços e reduziu os custos das transações internacionais”, explica Dávalos.
O déficit fiscal de US$ 8 bilhões do Equador, por exemplo, não se deve à implantação do dólar no dia a dia, medida que foi impopular logo no início do período de transição. À época, o governo local tentava lidar com a forte inflação e usou a moeda norte-americana como âncora.
“Apesar de ter uma das maiores contrações econômicas da região, não temos inflação, nem corridas aos bancos, nem fuga de capitais”, disse a economista Gabriela Calderón, do think tank Cato Institute. Assim, mesmo com a crise, o país se mantém em um sistema financeiro “relativamente estável”, afirmou.
Com o uso de uma moeda própria, o Equador, por exemplo, encararia o risco de se submeter a instituições enfraquecidas e ficaria dependente do Banco Central para aumentar a oferta monetária – fator que pode gerar forte inflação na economia local.
“Se o Equador não tivesse se dolarizado, seria pior”, afirmou Calderón. “O dólar tem sido a âncora que impede a inflação e protege as poupanças”.
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