Um “legado de ativismo” – é assim que a professora da Universidade de Manchester, Olga Onuch, descreve os efeitos sociais deixados pela Revolução do Granito na Ucrânia, à RFE.
Batizado em homenagem às pedras da Praça da Independência, onde estudantes se instalaram com centenas de barracas, o movimento completa 30 anos neste mês de outubro e é um dos mais bem sucedidos do país por desafiar a União Soviética e terminar vitorioso.
“Aquele foi o momento em que a população ucraniana reacendeu todas as redes de ativismo e influenciou os jovens a quererem fazer parte de diferentes movimentos sociais em todo o país”, relatou a especialista.
Em outubro de 1990, um grupo de estudantes de Kiev decidiu ocupar a hoje conhecida como Praça da Independência.
Com tendas, eles iniciaram uma greve de fome e decidiram que não deixariam o local até que as autoridades cumprissem uma série de exigências.
Desafiando o regime
A lista desafiava abertamente o regime soviético. Ao convocar eleições parlamentares antecipadas, os jovens também queriam a nacionalização das propriedades do Partido Comunista e a renúncia do então primeiro-ministro, Vitaliy Masol.
Os estudantes também deram o primeiro passo para o ressurgimento do nacionalismo ucraniano, exigindo que todos os recrutados para servir ao Tratado da União, assinado com a Rússia, prestassem os seus serviços em seu próprio país.
Dentro de poucos dias, o protesto chamou a atenção e, imediatamente, milhares saíram às ruas para apoiar os manifestantes. Organizações e trabalhadores também se uniram à causa e convocaram greves em todo o país.
“Estávamos preparados para ser espancados, mas a cada dia mais pessoas estavam na praça”, relata Mykola Bohoslavets, que integrou os protestos aos 19 anos.
Os protestos chegaram ao fim em 17 de outubro, com boa parte das reivindicações cumpridas – entre elas a renúncia de Masol. Na primeira vez em décadas em que manifestantes ucranianos desafiaram abertamente o governo, houve celebração nas ruas.
Oposição
Com uma oposição fortemente reprimida até o final da Perestroika, período de gradual abertura esposado pelo presidente soviético Mikhail Gorbachev, os protestos marcaram a história da Ucrânia contemporânea.
Ao contrário da Polônia e da Tchecoslováquia, que mantinham movimento oposicionistas clandestinos organizados, os dissidentes ucranianos foram duramente perseguidos e mortos pelo governo soviético.
O país, no entanto, possuía mais opositores a Moscou que qualquer república do entorno. “A grande diferença é que houve várias ondas de repressões, incluindo o envio de pessoas para campos e hospitais psiquiátricos”, explicou Onuch.
É esse sentimento que permanece vivo na Ucrânia, disse Mykola. “A sede de mudança dos ucranianos ficou ainda mais forte nos anos que passaram. Dos grupos de pessoas que estavam prontos para a ação há 30 anos, existem agora centenas, milhares e milhões”.
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