De orientação xiita, o grupo Hezbollah é um misto de partido, organização terrorista e paraestado no Líbano. Hoje, o braço político do grupo tem representação de 12 cadeiras no Parlamento do Líbano, e duas no gabinete ministerial.
Desde 1980, o Hezbollah esteve envolvido em 1.218 eventos, entre ataques e tentativas, projetos de financiamento e logística, ou como alvo de medidas de contraterrorismo. Os dados, compilados pela organização The Washington Institute for Near East Policy, integram um mapa interativo.
No exterior, o grupo é classificado como organização terrorista por EUA, Liga Árabe e países europeus. A exceção é a Rússia, que caracteriza o Hezbollah como “força sociopolítica legítima”. A definição é do então vice-chanceler Mikhail Bogdanov em entrevista de 2015 à imprensa russa.
A China, em linha com sua política de absoluta não interferência em matérias de direitos humanos, não tem posicionamento público quanto à questão. Beijing mantém contato com braço político do grupo.
No Brasil, há registros de que o grupo realiza operações financeiras por meio da expressiva colônia sírio-libanesa que vive na tríplice fronteira com Argentina e Paraguai. As primeiras atividades do Hezbollah no país, segundo o levantamento, datam de 1984.
Na vizinha Argentina, há indícios de envolvimento do grupo no bombardeio da Amia, organização israelita no país, em 1994. O pior atentado da história argentina matou 85 pessoas em Buenos Aires e, segundo a procuradoria, foi encomendado pelo Irã e executado por membros do Hezbollah.
Paraestado
O Hezbollah opera, no sul do Líbano, escolas, hospitais e fazendas de produção agrícola, inclusive de maconha. Parte considerável de seu financiamento, ao longo da história, foi feito pelo Irã.
O grupo, cujo líder é o libanês Hassan Nasrallah, também controla pequenos territórios no nordeste do pequeno país, que tem o tamanho do estado brasileiro de Sergipe.
O Hezbollah acabou recebendo a alcunha de “estado dentro do Estado“, já que possui programas de assistência social, produto valorizado em um país onde a presença estatal é historicamente ausente.
As origens da guerrilha
A organização surgiu paralela à guerra civil libanesa, responsável por devastar o país entre 1975 e 1990. Seu nome significa “Partido de Deus”. A meta era a de contrabalançar investidas de Israel sob o território e o que interpreta como uma “invasão da cultura ocidental” no Oriente Médio.
O grupo também procurava reequilibrar as forças que controlam o país desde sua fundação, com o fim do mandato francês, em 1943. No Líbano, o poder é dividido entre um muçulmano sunita como primeiro-ministro, um presidente do Parlamento xiita e um cristão maronita como presidente.
Com o êxodo de palestinos, sunitas, desde a criação do Estado de Israel e o impacto da revolução iraniana, xiita, em 1979, parcelas da população xiita do país passaram a argumentar que havia desequilíbrio na balança de poder.
O regime recém-instalado em Teerã, de olho na expansão de sua área de influência no Oriente Médio, financia os rebeldes libaneses. A guarda revolucionária iraniana foi a responsável pela operacionalização dos primeiros anos de treinamento.
Com técnicas de guerrilha, o Hezbollah foi responsável por ataques contra Israel desde sua fundação, em 1948. Também tem ligação com o assassinato do então primeiro-ministro libanês, Hafik Hariri, em 2005.
A morte foi a catalisadora da chamada Revolução dos Cedros, que exigia a retirada das tropas sírias espalhadas pelo país desde o fim da guerra civil.
Na atualidade
Hoje, o Hezbollah participa de forma ativa da guerra civil síria ao lado de tropas do presidente Bashar al-Assad – cuja domina a política síria desde 1971, nos tempos do pai do atual ditador, Hafez.
O grupo se posiciona em oposição às organizações extremistas sunitas, como a Al-Qaeda e o autodenominado EI (Estado Islâmico).
Com a insatisfação dos libaneses com seus sistemas de governo, espera-se mudança na forma como o grupo se posiciona dentro e fora do país onde se notabilizou. O motivo seria a forte crise econômica e social que tomou o país e se agravou após a explosão do porto de Beirute, em agosto.
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