Ideólogo do partido ultraconservador que hoje domina a política da Polônia, Jaroslaw Kaczynski foi escolhido no último dia 30 como vice-premiê do país. O líder terá sob suas responsabilidades a supervisão de ministérios considerados estratégicos, como Justiça, Interior e Defesa.
A escolha de Kaczynski, fundador do partido PiS (Prawo i Sprawiedliwość, ou Lei e Justiça em português) e primeiro-ministro entre 2006 e 2007, fortalece o governo de extrema direita em torno de sua figura.
Em maio deste ano, o PiS garantiu mais um mandato após a reeleição de Andrzej Duda. Mas, nos bastidores, Kaczynski já era considerado um dos governantes de facto da Polônia.
No auge da pandemia, o pleito deste ano ocorreu por correio. Se perdesse, – contra o prefeito de Varsóvia e liberal moderado Rafal Trzaskowski – Duda e o PiS não seriam capazes de manter sua coalizão com o ainda mais radical Polônia Unida, de Zbigniew Ziobro, que controla a pasta da Justiça.
O PiS, partido criado em 2001 por Kaczynski e seu irmão gêmeo Lech, morto em 2010, tem como principais bandeiras o nacionalismo, o conservadorismo social e a xenofobia.
A agremiação também tornou-se notória pelo intervencionismo econômico e pela orientação fortemente católica, acompanhada da recusa de direitos a minorias, sobretudo os LGBT.
Endurecimento institucional
O Judiciário tem sido o principal meio para a realização de reformas centralizadoras do poder, por isso tornou-se um dos ministérios mais disputados nas altas esferas de comando polonesas.
Nos primeiros anos de governo, as mudanças – que na prática diminuíam a capacidade do Judiciário de servir como contrapeso ao Executivo e ao Legislativo – geraram uma crise com Bruxelas.
Para a UE, à qual o país se juntou formalmente em 2004, as emendas representavam uma deterioração democrática que punha em risco a manutenção da Polônia no bloco.
Apenas um ano depois da integração polonesa à UE, Lech Kaczynski é eleito presidente e forma sua coalizão de extrema direita no país. O PiS foi um dos primeiros partidos da direita populista a chegar ao poder, antes de ganhar espaço em países como a vizinha Hungria, o Brasil, a Colômbia e os EUA.
De onde saíram
Nascidos em 1949, Jaroslaw e seu gêmeo idêntico, Lech, foram estrelas mirins do cinema polonês com o filme “Os Dois Que Roubaram a Lua” (1962). Adultos, ambos tornaram-se doutores em Direito: Jaroslaw pela Universidade de Varsóvia e o irmão, por Gdansk.
O perfil dos irmãos era o mais à direita possível: profundamente católicos, ultranacionalistas, críticos frequentes da UE (União Europeia) e forjados como lideranças anticomunistas ainda nos anos do sindicato Solidariedade, na década de 1980.
Voltaram aos holofotes e ganharam espaço a partir de 1989, quando foram eleitos para o Sejm, a Câmara baixa do Parlamento. Em 1993, romperam com Lech Walesa, líder do Solidariedade, sindicato transformado em partido que se tornou o símbolo do anticomunismo polonês.
Em 2001, os irmãos fundaram o PiS usando ativos pelos quais haviam se popularizado. O nacionalismo, a postura divisiva e a hostilidade ao projeto de Bruxelas, ainda que em uma versão mais discreta, foram gradualmente bem acolhidos pela opinião pública polonesa.
Um ano depois da posse de Lech na Presdiência, Jaroslaw é escolhido pelo irmão para o cargo de primeiro-ministro. Fica no cargo por um ano, até 2007, aquando o PiS é derrotado pela Plataforma Cívica, agremiação moderada e pró-Europa, e é forçado a deixar o posto.
Na eleição de 2007, o PiS perde seu eleitorado mais moderado, o que empurrou o partido para as franjas do debate público e para a defesa de posições cada vez mais polarizadoras.
Lech permanece como presidente até sua morte, em 2010, em um acidente aéreo em Smolensk, na Rússia. A comitiva polonesa viajava ao país para um evento em memória do massacre de Katyn, em 1940. Até hoje circulam teorias de que Moscou teria sabotado a aeronave.
A morte repentina de Lech, mais moderado, deixou Jaroslaw sem alguém que oferecesse um contrapeso às suas visões radicais e permitiu uma guinada ainda mais à direita no partido criado pelos irmãos.
Dez anos depois e sem sucessor aparente, o desafio do ideólogo e agora vice-premiê da Polônia será garantir a continuidade de sua agenda radical no cenário político do país.
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