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domingo, 6 de dezembro de 2020

Protestos contra Lukashenko pioram relação dos bielorrussos com Moscou

Apenas um em cada quatro bielorrussos considera o atual presidente, Aleksandr Lukashenko, legítimo. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada pelo think tank Chatham House, divulgada no último dia 30.

A situação em Belarus é sem precedentes na história local: 0,4% da população adulta – ou cerca de 30 mil pessoas – foi presa em algum momento desde agosto, quando começaram os protestos contra a sexta reeleição de Lukashenko, no poder há 26 anos.

O think tank estima que o equivalente a cerca de US$ 10 milhões já foram doados pela população, para assistência jurídica a quem foi preso e auxílio médico a feridos. No site Probono.by, é possível encontrar médicos, advogados e psicólogos dispostos a ajudar.

Protestos contra Lukashenko podem mudar relação dos bielorrussos com Moscou
Protestos em Minsk, capital da Belarus, em 16 de agosto de 2020 (Foto: WikiCommons/Homoatrox)

Também há cooperação no aplicativo de mensagens Telegram. Os manifestantes organizam grupos com os vizinhos de bairro para trocar informações sobre onde a polícia tem agido com violência.

Após o corte de água no bairro de Novaya Borovaya, que abriga uma população jovem, cosmopolita e ligada aos protestos, gerou uma articulação de 20 mil pessoas no Telegram para coordenar o envio de garrafas de água aos moradores.

O pleito, no dia 9 de agosto é cercado de suspeitas de fraude. O presidente, no cargo desde 1994, teria sido eleito com 80% dos votos. Desde então, o país foi varrido por manifestações pedindo sua renúncia. A candidata da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, se exilou na Lituânia.

O que mudou

Desde agosto, o imbróglio pode ter gerado mudanças na percepção dos bielorussos a respeito de seu país e de seu maior aliado, a Rússia. Para além das semelhanças culturais, o alinhamento de Belarus com os russos sempre foi muito latente na sociedade local.

Hoje, para quase metade dos 864 entrevistados, a visão sobre Moscou piorou graças ao apoio concedido pelo presidente Vladimir Putin ao seu colega em Minsk, Lukashenko, mesmo em meio aos protestos.

Para 73% dos consultados, entrevistados entre 13 e 18 de novembro, apenas a Rússia ainda apoia Lukashenko. Para um terço, Moscou está “com certeza” influenciando a situação interna do país, embora dois em cada três achem que a potência a leste não deveria se envolver no problema.

Se Tikhanovskaya fosse conduzida ao poder, seis em cada dez consultados acham que a nova presidente deveria manter relações próximas com Moscou e com a UE (União Europeia).

A mudança é significativa do ponto de vista cultural. Belarus, Rússia e Ucrânia são países historicamente muito próximos. Segundo parcela significativa da população, os três países compõem uma “grande nação eslava”.

Em um eventual governo alinhado aos movimentos contra Lukashenko, cerca de 40% não vê nenhuma chance de uma política antirussa, fim do status do russo como língua oficial ou perseguição a cidadãos que esposem visões favoráveis a Moscou.

Para o think tank, a pesquisa evidencia que está um curso uma mudança cultural. Ainda não é possível determinar efeitos de longo prazo, mas o verão de 2020 já pode ser compreendido como um ponto de inflexão na cultura política bielorussa a uma situação de maior independência em relação aos vizinhos de cultura parecida.

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