A ambição do presidente Recep Tayyip Erdogan em impulsionar a Turquia e a política externa “ativista” são ingredientes essenciais à ascensão do país dos “subúrbios” geopolíticos para uma nova era frente à comunidade internacional.
Ainda que a transformação não tenha ocorrido de forma linear, é Erdogan que, enquanto primeiro-ministro entre 2003 e 2014, desenha os primeiros traços do que viria a aumentar a legitimidade interna do regime – e, assim, garantir sua sobrevivência.
“Este comportamento representa uma mudança radical da predileção anterior da Turquia por uma política externa que abraçou o status quo e que evitou aventuras estrangeiras”, disse a análise publicada no World Politics Review.
Os resultados são frutíferos. Atualmente, os militares da Turquia representam a maior tropa da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), depois dos EUA, e se espalham em diferentes conflitos ao redor do mundo.
Síria, Iraque, Líbia e Mediterrâneo Oriental são alguns exemplos. O mais recente envolveu Ancara na disputa entre o Azerbeijão e Armênia pelo território de Nagorno-Karabakh, após 30 anos de conflito adormecido.
O apoio de Erdogan garantiu a vitória do Azerbaijão ao confronto no final de novembro. O movimento marca a crescente influência turca no “quintal geopolítico” de Moscou.
O início da mudança e perspectivas futuras
As transformações na política externa da Turquia começam por volta de 2010. Três anos antes, o alto escalão militar do país havia desafiado Erdogan a vetar a ascenção de Abdullah Gul, do AKP, à presidência.
Sem sucesso, os militares abandonaram a política e Erdogan consolidou seu poder em casa – um aval necessário para reformular as instituições do país. Com a sociedade civil, imprensa, universidades e associações independentes eviceradas, a dissidência perdeu qualquer réstia de tolerância.
Contrário a o que considera uma “ordem mundial injusta”, em referência ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), Erdogan começou comprando mísseis antiaéreos S-400 da Rússia, apesar da oposição dos EUA.
Assim, o presidente renunciou a bilhões de dólares em receitas de exportação do programa F-35, da Otan enquanto testava o sistema de mísseis pela primeira vez. A manobra é tida como arriscada, já que vai na contração de Washington e suas poderosas sanções.
Esses movimentos chamam a atenção da comunidade internacional. Erdogan se constituiu como “político imparável”. “Cercado por bajuladores, ninguém ousa contradizê-lo”, aponta a análise.
“Mesmo se as sanções ou outros obstáculos o forçarem a fazer concessões, Erdogan abrirá rapidamente outra frente em outro lugar”, complementa o texto. Como qualquer líder populista, sua luta sempre se espalha aos demais. “Ele continuará a empurrar o máximo que puder, até encontrar um obstáculo”, prevê o artigo.
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