A insistência do líder da oposição de Camarões, Maurice Kamto, em contestar os resultados das eleições de 2018 já deixaram a virtualidade e estendem à violência nas ruas, aponta um relatório do Crisis Group.
Há meses, o discurso de ódio, vinculado em geral no Facebook, vem tomando forma de violência em diversas cidades do país. Enquanto o governo tenta dissipar os protestos com jatos de água, os movimentos persistem.
Ativistas de diversas correntes políticas usam a rede para propagar desinformação e alargar as diviões étnicas. “As tensões podem se estender a disputas interétnicas ainda piores”, aponta o relatório.
O país soma mais de 250 comunidades étnicas diferentes. Até 2018, eram raros os embates – a maioria por disputa de terras – entre os grupos. Agora, a incitação à violência tornou-se comum, apesar de raramente combatida em Camarões.
Grupos opositores têm entrado em embate desde outubro do último ano. À época, um vídeo de protestos contrários ao presidente Paul Biya desencadeou uma onda de violência em Sangmelima, ao sul.
Calúnicas étnicas minam as tentativas de reformas do governo de Paul Biya e as tensões ameaçam a estabilidade já desgastada pelos grupos separatistas anglófonos nas regiões sudoeste e noroeste do país.
O poder em disputa
A disputa sobre as eleições presidenciais de 2018 ainda molda a política camaronesa. À época, as autoridades do país declararam Kamto como o vice-campeão de Biya – resultados não questionados só pela oposição, mas por órgãos internacionais.
Já Biya, um dos presidentes mais longevos da África, se agarra ao poder há 38 anos – e não dá pistas de que pretende deixar o cargo. Kamto, que chegou a ser preso sob acusação de insurreição, sedição e incitação à violência em fevereiro de 2019, critica o governo por não efetuar reforma eleitoral.
O opositor e seus aliados alimentam o confronto ao governo em questões polêmicas. Mesmo francófono, Kamto critica o governo por sua falta de posição nos conflitos dos separatistas da Ambazônia.
A região, na fronteira com a Nigéria, compartilha com o vizinho a língua inglesa e pleiteia separação de Camarões, de maioria francófona. Dezenas já foram mortos em confrontos e massacres na região.
O Crisis Group recomenda ao governo de Camarões as correções no sistema eleitoral reivindicadas pela oposição e exorta o Facebook e limitar o “conteúdo inflamatório” para impedir ataques interétnicos.
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