Em 2019, 47,7 milhões de latino-americanos passaram fome, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), em seu panorama anual de segurança alimentar, divulgado nesta quarta (2). É o equivalente a 7,4% da população total da região.
O país mais afetado é o Haiti, com 48,2% da população desnutrida. Na sequência, vem a Venezuela, com 31,4%, e um número de famintos que quintuplicou nos últimos cinco anos. Nicarágua, Guatemala e Bolívia também encabeçam a lista, com cerca de 15% cada.
A situação piorou nos últimos cinco anos, nos quais mais 13,2 milhões de pessoas passaram a não ter o suficiente para comer. Se a escalada continuar na mesma velocidade, em 2030 serão 67 milhões de latino-americanos com fome – isso sem contabilizar os efeitos da pandemia de Covid-19.
A insegurança alimentar, quando há poucos alimentos ou de baixa qualidade e que não garantem calorias e nutrientes necessários, é generalizada no continente. Um em cada três latino-americanos vivem nessa situação, ou 191 milhões de pessoas.
O relatório também observa que o número de crianças que tiveram o crescimento afetado pela falta de alimentos tem diminuído, de 22,7% dos pequenos nascidos na América Latina em 1990 para 9% em 2019.
Ao mesmo tempo, a obesidade infantil vem crescendo, de 6,2% para 7,5% nos mesmos 29 anos. A média é superior à global, de 5,6%. A obesidade não se trata do mero excesso de comida, mas da qualidade daquilo é ingerido.
Tornou-se comum em países como Brasil e México a alimentação baseada em ultraprocessados: refrigerantes, guloseimas, empanados, pão e massas refinadas tornaram-se lugar-comum, em detrimento da alimentação tradicional baseada em arroz, feijão, carne, hortaliças e milho.
Esses dois lados opostos da insegurança alimentar também ocorrem em áreas distintas. A fome é mais comum em áreas rurais e isoladas, enquanto a obesidade é prevalente nas famílias pobres e urbanas, indica o relatório.
Crise alimentar
O levantamento da ONU é referente ao ano de 2019, mas dá indicações de que o impacto econômico da pandemia do novo coronavírus pode gerar uma crise alimentar no continente.
Entre as políticas de alta prioridade sugeridas pela FAO estão a transferência de renda para as famílias mais afetadas e o apoio à agricultura familiar, mantendo o fluxo de produção de alimentos.
A FAO também recomenda a reorganização dos programas de alimentação na escola – para muitas crianças, a principal fonte de calorias do dia. Doações de instituições privadas e de governos, além de subsídios temporários para a agricultura, podem amortecer parte desse impacto.
“É necessário oferecer apoio financeiro, de crédito e subsídios produtivos para empresas de agricultura, voltados sobretudo para fazendas familiares, e ajustar protocolos sanitários e de saúde na produção, transporte e venda no atacado e no varejo”, lista o relatório.
Os subsídios concedidos ao setor de agricultura, porém, devem ser implementados com cuidado para não gerar protecionismo. Esse tipo de prática encarece o preço de commodities no mercado internacional e dificulta a situação, observa o relatório.
Após a pandemia, não há atalhos para resolver o problema. Os governos locais terão de priorizar e investir em aumento do número de empregos formais, sem os quais fica difícil combater a pobreza.
Também será fundamental investir a agricultura de pequeno porte, responsável por abastecer as grandes cidades. Aumentar as ferramentas financeiras e tecnológicas em prol do aumento de produtividade no campo, além da diversificação da produção, geram benefícios perenes na maximização da segurança alimentar.
O post Quase 50 milhões de latino-americanos passaram fome em 2019, estima ONU apareceu primeiro em A Referência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, evite comentários depreciativos e ofensivos