Na sombra da Guerra do Vietnã, entre 1955 e 1975, houve um conflito “secreto” no vizinho Laos. Ali, a disputa entre guerrilhas comunistas e a monarquia gerou uma operação norte-americana de contrainsurgência que jamais alcançou a notoriedade da barbárie que ocorria à leste da fronteira.
Quase cinco décadas depois, o país é um dos mais pobres e isolados do mundo. Um dos principais motivos para o atraso seria o alto número de bombas não detonadas até hoje, espalhadas por todo o território.
Essa é a principal conclusão de um estudo dos pesquisadores Felipe Caicedo e Juan Felipe Riaño, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. O material foi publicado na VoxEU, que compila estudos em Economia.
Quase à revelia da opinião pública internacional, o Laos foi alvo de intensos bombardeios dos EUA. A absoluta maioria desse arsenal, de 270 milhões de bombas, permaneceu ali e pronto para explodir a qualquer momento.
Os artefatos explosivos são de fragmentação, que se despedaçam em milhares de pequenos objetos cortantes para matar ou ferir com o maior dano possível. Quando as tropas norte-americanas deixaram o sudeste asiático, em 1975, menos de 1% das bombas havia sido removida.
Consequências de longo prazo
Desde então, o país pouco se desenvolveu. A educação é mais baixa que no vizinho Vietnã e há pouca mobilidade da população do campo para funções com melhor remuneração nas cidades.
O economista britânico Paul Collier, da Universidade de Oxford, observa que, na esteira de uma guerra civil, o PIB (Produto Interno Bruto) de um país registra na média uma queda de 15%. Já a taxa de pobreza pode aumentar mais de 30%.
Mas o principal achado dos pesquisadores canadenses foi o que há evidências de que as milhões de bombas espalhadas pelo território laociano pioraram em longo prazo a situação de um país então pobre e que jamais conseguiu se desenvolver.
Nos últimos 25 anos, os EUA enviaram ao Laos cerca de US$ 400 milhões para remover as bombas do território laociano. Segundo o serviço de pesquisa do Congresso norte-americano, seria necessário um século para limpar o Laos das bombas da guerra se mantido o ritmo atual.
Entre 2020 e 2024, a meta era liberar US$ 50 milhões por ano para levantar a localização dessas bombas, limpar os terrenos, investir em educação voltada para gerenciar os riscos gerados pelos explosivos e auxiliar as vítimas não apenas no Laos, mas nos vizinhos Camboja e Vietnã.
Quando as tropas norte-americanas deixaram o sudeste asiático, em 1975, menos de 1% das bombas de fragmentação espalhadas pelo Laos havia sido removida
A provisão de 2019 era de US$ 30 milhões para o Laos, US$ 3,85 milhões para o Camboja e US$ 15 milhões para o Vietnã – indicativo do problema deixado em território laociano desde o fim da guerra, nos anos 1970.
Para os pesquisadores, a questão das bombas não detonadas e espalhadas pelo território será vital para a elaboração de políticas públicas eficientes que, se bem sucedidas, podem servir de modelo para outras nações com problemas semelhantes, como Moçambique.
Aproximação bilateral
Esse esforço seria importante para que os EUA reconstruam as relações com o Laos e com o Camboja. Nessas nações, ao contrário do Vietnã, “a limpeza desses explosivos é um dos poucos temas com os quais os oficiais norte-americanos e dos países afetados têm cooperado nos últimos anos”.
Washington também envia recursos a esses países para a identificação de mortos e desaparecidos e para a mitigação dos efeitos de bombas altamente tóxicas de dioxina, chamadas de “Agente Laranja”. Ainda hoje, há contaminação de milhares de hectares de terra – cifra que pode chegar a 16% do território vietnamita –, e múltiplos registros de câncer e malformação em bebês.
Passado e futuro
A guerra civil laociana, que começou em 1953, era um conflito interno entre forças comunistas, do Pathet Lao, contra a monarquia. Tornou-se em 1964 uma operação com interferência dos EUA, que se opunha a uma tomada do poder por parte dos guerrilheiros.
Na época, essa intervenção norte-americana foi secreta e não houve repercussão na imprensa local. Seu impacto imediato, ainda durante o conflito, foi a morte de 50 mil laocianos.
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