Este artigo foi publicado originalmente em junho no Blog do FMI (Fundo Monetário Internacional). Foi selecionado por A Referência à luz da segunda onda da doença e como forma de fomentar o debate sobre erros e acertos dos governos na resposta à crise da Covid-19
por Pragyan Deb, Davide Furceri, do departamento de Estratégia, Políticas e Avaliação e Jonathan D. Ostry e Nour Tawk, do departamento da Ásia e do Pacífico do FMI
Desde que surgiram os primeiros relatos sobre o surto de Covid-19 em Wuhan, China, no fim de dezembro de 2019, a doença se espalhou para mais de 200 países e territórios. Na ausência de uma vacina ou de um tratamento eficaz, os governos de todo o mundo recorreram a medidas de contenção e mitigação sem precedentes em resposta a esta crise – o Grande Lockdown.
Tais medidas, por sua vez, resultaram em perdas econômicas significativas a curto prazo, bem como em um declínio da atividade econômica mundial que não se via desde a Grande Depressão. Valeu o sacrifício?
Nossa análise, com base em uma amostra global, indica que, ao reduzir a mobilidade, as medidas de contenção foram bastante eficazes em “achatar a curva” da pandemia. Por exemplo, as rígidas medidas de contenção tomadas na Nova Zelândia – restrições a aglomerações e eventos públicos adotadas quando o número de casos não passava de um dígito, seguidas do fechamento de escolas e locais de trabalho e, após alguns dias, de ordens para não sair de casa – provavelmente reduziram em mais de 90% o número de vítimas fatais, em comparação a um cenário de referência sem medidas de contenção.
Por outras palavras, em um país como a Nova Zelândia, o número de mortes confirmadas por Covid-19 teria sido dez vezes maior se não fosse pelas rigorosas medidas de contenção.
A intervenção e a contenção precoces, quantificadas pelo número de dias que se passaram até um país impor medidas de contenção após um surto significativo – no jargão epidemiológico, o tempo de resposta da saúde pública – tiveram um papel significativo no achatamento da curva. Países como o Vietnã, que adotaram mais rapidamente medidas de contenção, viram o número médio de infeções e óbitos cair 95% e 98%, respectivamente. Isso, por sua vez, estabeleceu as bases para o crescimento a médio prazo.
O efeito das medidas de contenção também variou segundo as diferentes características nacionais e sociais. O impacto foi maior nos países em que as temperaturas mais baixas durante o surto produziram taxas de infecção mais elevadas e naqueles com populações mais velhas e, assim, mais vulneráveis a infecções. Por outro lado, fatores como um sistema de saúde forte e menor densidade populacional aumentaram a eficácia das estratégias de contenção e mitigação ao facilitar a aplicação e fiscalização das medidas.
A resposta da sociedade civil às restrições de jure também foi importante. Os países cujas medidas de isolamento resultaram em menor mobilidade e, por conseguinte, maior distanciamento social, conseguiram reduzir mais o número de infecções e mortes por Covid-19.
Por último, exploramos se o efeito da contenção varia de acordo com o tipo de medida. Muitas dessas medidas foram introduzidas simultaneamente como parte da resposta do país para limitar a disseminação do vírus, o que dificulta a identificação da medida mais eficaz.
Contudo, nossos resultados sugerem que, embora todas as medidas tenham contribuído para reduzir consideravelmente o número de casos e mortes por Covid-19, as ordens para ficar em casa parecem ser tido relativamente mais eficazes.
Nossas estimativas empíricas fornecem uma avaliação razoável do efeito causal das políticas de contenção sobre o número de infecções e mortes, o que nos dá o conforto de saber que, apesar de seus enormes custos econômicos a curto prazo, o Grande Lockdown salvou centenas de milhares de vidas. Em última análise, o curso da crise sanitária mundial e o destino da economia global são indissociáveis – combater a pandemia é uma necessidade para que a economia se recupere.
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