As restrições impostas pelo governo da Espanha durante a pandemia impulsionaram abusos em lares de idosos nas regiões de Madrid e Catalunha, denuncia relatório da Anistia Internacional.
As medidas oficiais para conter os contágios foram “ineficientes e inadequadas”, disseram especialistas. Uma estimativa aponta que cerca de 50% das 40,7 mil mortes registradas até 15 de novembro na Espanha ocorreram em lares de idosos.
Conforme a Anistia, os funcionários de asilos não receberam qualquer proteção individual ou testes para detecção do vírus durante o primeiro surto na Espanha, entre março e abril.
Além disso, grande parte dos idosos foi excluído dos encaminhamentos a hospitais e não recebeu assistência de saúde nos lares apesar dos anúncios de auxílio das autoridades.
No auge da pandemia, os idosos ficaram confinados em seus quartos por longos períodos. Com os cômodos bloqueados e sem fiscalização efetiva, a privação se estendeu também às equipes de saúde.
A filha de uma das vítimas Elena Valero relatou que o sistema de saúde proibiu o encaminhamento dos doentes de lares ao alegar que os idosos só receberiam “cuidados paliativos até que o corpo aguentasse”.
“Uma emergência de saúde não é desculpa para não fornecer cuidados adequados aos idosos”, disse o diretor da Anistia Internacional na Espanha, Estaban Beltrán. “Asilos não são estacionamentos de idosos. As autoridades devem protegê-los”.
Subfinanciamento à saúde
A Anistia atribui os maus tratos ao subfinanciamento da saúde na Espanha. “Décadas de cortes sociais prejudicaram o sistema público de saúde, deterioraram seu acesso e qualidade”, diz o relatório.
Sem equipamentos de proteção, os funcionários dos lares eram obrigados a desenvolver suas próprias máscaras de proteção – quase sempre ineficazes. “Colocávamos sacos de lixo e gorros de plástico no rosto. Não tínhamos proteção nenhuma”, relatou uma funcionária de Madrid.
Só na capital espanhola, 5,8 mil idosos morreram em decorrência da Covid-19 entre março e maio. O número representa 43% do total de mortes até 3 de dezembro.
Já na Catalunha, o governo registrou pouco mais de 7 mil idosos em lares mortos após a infecção pelo vírus entre março e novembro, o equivalente a 47% do conjunto de mortes no mesmo período.
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