Entrevista publicada originalmente na agência de notícias da ONU (Organização das Nações Unidas)
Para a comandante brasileira Carla Monteiro de Castro Araújo – vencedora do Prêmio Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU –, é essencial que mais mulheres integrem as operações de paz ao redor do mundo.
Carla serve na Missão de Paz na República Centro-Africana e relata a sua experiência como líder em locais remotos e comunidades vulneráveis.
ONU News: O que esse prêmio representa para você?
Carla Araújo (CA): O prêmio foi uma grande alegria para a gente. Ele veio coroar um trabalho durante a missão. É uma resposta aos meus questionamentos internos se eu estava fazendo a coisa certa.
Quando eu desembarquei na missão, a gender advisor que veio antes de mim já havia recebido o prêmio, então todo o trabalho que eu fiz não era pensando no prêmio, mas em como eu poderia fazer a diferença aqui na República Centro-Africana.
Esse prêmio veio como uma grande surpresa e uma resposta de que realmente o que eu sentia era para ser feito. Ele fechou com chave de ouro todo esse ano que eu passei na República Centro-Africana.
ONU News: Qual é o seu trabalho na República Centro-Africana?
CA: Eu trabalho não somente com o componente militar, estimulando um maior desdobramento de mulheres nas missões de paz da ONU, como também trabalhamos, através de focal points, com a comunidade local.
Porque o trabalho da mulher junto com a população local, nós percebemos, é muito melhor. É mais fácil de conseguir informações, é mais fácil de conseguirmos nos conectar com a população. Não só com as mulheres, mas com homens também. Porque nós temos características diferentes.
Nós somos mais acolhedoras, nós inspiramos mais confiança na população. Normalmente, as mulheres vêm até nós, as crianças vêm até nós. E fica mais fácil que consigamos proteger as mulheres locais quando trabalhamos com elas no terreno.
As mulheres inspiram mais confiança na população [vulnerável]. As pessoas vêm até nós. E assim fica mais fácil proteger a comunidade
– Carla Monteiro de Castro Araújo, vencedora do Prêmio Defensora Militar da Igualdade de Gênero da ONU
ONU News: O que foi um grande aprendizado nesta missão?
CA: Uma grande lição que eu tive foi que nós sozinhos não conseguimos fazer nada. Então se eu não tivesse tido apoio seja da nossa liderança da Minusca, seja dos nossos companheiros da parte civil, e do nosso próprio componente militar, se a gente não tivesse estabelecido uma rede coesa, nós não teríamos conseguido fazer nada.
Porque a missão de paz é uma missão multidimensional e nós temos que nos integrar, nós temos que unir nossos esforços em prol de um objetivo comum. Só assim nós conseguimos cumprir nosso mandato.
ONU News: O que você acha que pode ser feito para aumentar a presença das mulheres nas operações de paz?
CA: Eu consigo ver que a ONU tem feito um esforço muito grande para aumentar a quantidade de mulheres nas operações. Então o que eu acho que deveria ser trabalhado agora é junto aos países contribuidores de tropas.
Porque eles precisam investir na capacidade nacional deles. Eles têm que investir nas suas mulheres. Não só agora na indicação, mas desde o início. Desde o ingresso das mulheres nas forças armadas, dar oportunidades iguais na carreira, investir nessa qualificação, e acreditar que elas vão fazer um bom trabalho aqui.
Encorajem suas mulheres a participarem das missões de paz, porque nós precisamos delas aqui.
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