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domingo, 3 de outubro de 2021

Tesouros arqueológicos estão ameaçados com o Taleban no poder no Afeganistão

Entre as inúmeras questões que geram preocupação no Afeganistão desde que o Taleban ascendeu ao poder, no mês de agosto, está a arqueológica. Por ora, os talibãs parecem respeitar os tesouros escondidos no solo afegão, que vão desde artefatos antigos até ruínas históricas. Porém, arqueólogos temem que muitos registros de antigas civilizações possam se perder num futuro próximo, se não pela ação agressiva dos talibãs, pelo desinteresse em preservá-los.

De acordo com o site norte-americano Live Science, dois tesouros se destacam entre os muitos que existem no Afeganistão. Um deles, de valor material palpável, é o Ouro Batriano, uma coleção de mais de 20 mil artefatos, muitos deles em ouro puro, que foi encontrado por um arqueólogo soviético em 1978, nas escavações de Tillya Tepe.

O tesouro, com cerca de 2 mil anos de existência, permaneceu no Museu Nacional do Afeganistão por muitos anos e também foi exibido no palácio presidencial. Atualmente, o paradeiro das peças é um mistério.

Peça de ouro das escavações de Tillya Tepe, no Afeganistão (Foto: Merryjack/Flickr)

Num primeiro momento, porém, a preocupação maior se direciona às ruínas de Mes Aynak, uma cidade budista que floresceu há cerca de 1,6 mil anos ao longo da icônica Rota da Seda e era usada tanto para comércio quanto para adoração religiosa. Inúmeros mosteiros budistas e artefatos dessa religião estão enterrados no Afeganistão.

Quando governou o país anteriormente, entre 1996 e 2001, os talibãs destruíram muitos artefatos budistas, incluindo duas enormes estátuas do século VI conhecidas como “Budas de Bamiyan”, esculpidas em um penhasco afegão. Foram usadas armas de fogo diversas, inclusive foguetes e disparos de tanques, para derrubar as estátuas.

As informações que chegam do Afeganistão indicam que todas as ferramentas usadas nas escavações Mes Aynak foram retiradas, e membros do Taleban têm visitado o local por razões ainda desconhecidas.

“É difícil dizer quais são os objetivos imediatos desta visita”, disse Julio Bendezu-Sarmiento, ex-diretor da Delegação Arqueológica Francesa no Afeganistão. Segundo ele, havia planos de realizar uma exposição de artefatos de Mes Aynak na França, mas o Taleban assumiu o poder antes de os artefatos serem levados à Europa.

“A situação do patrimônio cultural não é boa, porque no momento ninguém está cuidando de locais e monumentos”, afirmou Khair Muhammad Khairzada, arqueólogo que liderou as escavações em Mes Aynak e teve que fugir para a França a fim de escapar da perseguição do Taleban. “Todos os sítios arqueológicos no Afeganistão estão sob risco”.

Segundo o arqueólogo, a preocupação é já existia antes do Taleban chegar ao poder, mas agora aumentou. A China detém os direitos de mineração na região, e já se temia que mineradoras chinesas pudessem ignorar o valor histórico do sítio arqueológico e transformar tudo em uma grande mina a céu aberto. Essa possibilidade, inclusive, segue viva atualmente, caso Beijing venha a negociar com o governo afegão recém-instituído.

A posição do Taleban

Questionado sobre a questão, o governo talibã afirmou anteriormente que vai respeitar os sítios arqueológicos. Até agora, porém, o grupo não tem se mantido fiel a outras promessas, como a de constituir um governo inclusivo, algo que foi por terra com a instituição de uma cúpula talibã exclusivamente de homens.

Gil Stein, professor do Instituto Oriental da Universidade de Chicago, diz que tem usado imagens de satélite para mapear e monitorar milhares de sítios arqueológicos no Afeganistão. Segundo ele, um antigo problema local são os saques de peças arqueológicas, e ao menos ate agora não há sinais de que os talibãs apoiem tais ações.

Nesse sentido, o problema maior ultimamente vinham sendo os estrangeiros. Muitos dos saques registrados no Afeganistão terminaram com as peças levadas aos Estados Unidos, o que exclui os extremistas como autores. Há até registros de diversos artefatos já devolvidos ao Afeganistão pelos norte-americanos e atualmente expostos no Museu Nacional.

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