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sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Refugiados acusam os Emirados Árabes de dar suporte ao EI durante a guerra da Síria

Uma ação judicial inédita, movida por três cidadãos sírios que buscam asilo político no Reino Unido, acusa o governo dos Emirados Árabes Unidos de financiar ações do Estado Islâmico (EI) durante a guerra da Síria. As informações são do jornal britânico Daily Mail.

A ação é carregada de ineditismo, pois usa os abusos contra os direitos humanos para tentar derrubar a imunidade decorrente da soberania estatal dos Emirados Árabes. Se a empreitada for bem sucedida, abrirá um precedente para outros casos semelhantes no Reino Unido.

Os homens, Mohamad Damen Alsulaiman, Ahmad Sharaf e Mohamed al Saeid, exigem indenizações por parte do governo dos Emirados Árabes justamente em função dos crimes cometidos na guerra síria. Um deles, ao testemunhar perante a corte, afirmou que “o cheiro de cadáveres e morte espalhou-se por minha amada cidade, e não havia mais vida nela”.

Eles alegam que em 2015 testemunharam casos de tortura severa, espancamentos violentos e destruição de propriedade cometidos por jihadistas que eles dizem terem sido armados armados pelo Estado árabe. Os denunciantes dizem que viram os extremistas portando armas, equipamento militar e kits de primeiros socorros dos Emirados Árabes. Um deles conta que um parente chegou a comprar comida embrulhada com uma bandeira do país.

Insurgentes do Estado Islâmico no deserto de Homs, Síria (Foto: Reprodução/Observatório Sírio de Direitos Humanos)

Segundo ele, os terroristas eram frequentemente vistos com armas CAR 816, ou Caracal Sultan, semelhantes à M16s norte-americanas, mas usadas pelo exército dos Emirados Árabes Unidos. Muitos portavam também pistolas Caracal, igualmente exclusivas do Estado árabe.

“Eles abusavam das pessoas e queriam transformar nossa sociedade em um regime totalmente conservador”, acusa Alsulaiman. “Eles torturaram e mataram muitas pessoas. Eles rejeitam nosso estilo de vida, que é liberal em comparação ao deles. Eles queriam que nos convertêssemos à sua ideologia radical”.

Por que isso importa?

A guerra civil na Síria, que já dura dez anos, deixou mais de 13 milhões de pessoas dependentes de ajuda humanitária segundo dados recentes da ONU (Organização das Nações Unidas). Somente na região noroeste há 4 milhões de pessoas nessa situação. 

O conflito opôs Rússia e Irã, aliados ao governo de Al-Assad, à Turquia. Mais de 590 mil pessoas morreram durante a guerra, que varreu a nação e deslocou mais da metade da população, que era de 23 milhões de pessoas.

Desde 2011, a oposição e líderes ocidentais exigem a saída de Assad, a quem acusam de crimes contra a humanidade. Apoiadores de Assad, por outro lado, criticam o que consideram uma interferência de Washington com o intuito de derrubar o presidente.

O EI, por sua vez, se enfraqueceu financeira e militarmente nos últimos anos, sobretudo na Síria e no Iraque, berços do grupo extremista. As Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país, enquanto o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho deste ano, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, justamente Iraque e Síria, onde atualmente mantêm células adormecidas que lançam ataques esporádicos.

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