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terça-feira, 26 de outubro de 2021

Para o secretário-geral da Otan, China e Rússia representam ameaça real ao bloco

O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jens Stoltenberg, acompanhado de embaixadores do bloco, reuniu-se com o presidente finlandês Sauli Niinistö em Helsinque nesta segunda-feira (25), ato que marcou o início de uma visita de três dias à Finlândia e à Suécia. Em coletiva, as autoridades responderam sobre diversos temas, como a democracia na China e relações diplomáticas com a Rússia, bem como a ameaça que as duas nações representam atualmente para os países do tratado. As informações foram divulgadas no site da aliança.

Stoltenberg saudou a cooperação entre a Otan e a Finlândia em matéria de segurança na região do Mar Báltico, bem como no Extremo Norte. “Juntos, tornamos a região euro-atlântica mais segura e mais estável, inclusive por meio da presença avançada da Otan na região do Báltico, nossa missão de policiamento aéreo e, claro, o compromisso da Finlândia com sua defesa nacional”, disse ele.

O secretário-geral ainda fez elogios à Finlândia pelas contribuições para a paz e segurança internacionais, desde os Balcãs Ocidentais até o Iraque. As autoridades também discutiram a política de Portas Abertas da Otan, com Stoltenberg reiterando que a porta da Aliança Atlântica permanece aberta para os países da Europa que cumpram os critérios de adesão.

Coletiva de imprensa reuniu o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o presidente da Finlândia, Sauli Niinistö (Foto: Otan/Divulgação)

Em conferência de imprensa, Stoltenberg e Niinistö falaram sobre tópicos como a repressão na China e a delicada questão interna com a Rússia, que vive um momento turbulento nas relações com o bloco depois expulsão de diplomatas russos pela Otan sob a acusação de espionagem. O secretário-geral diz que há questões importantes sobre segurança que precisam ser alinhadas com Beijing.

“Nós não consideramos a China como um adversário. Acreditamos que é importante se envolver com a China em muitas questões, incluindo, por exemplo, a mudança climática ou o controle de armas. Mas também nos damos conta de que a China representa desafios para nossa segurança”, declarou Stoltenberg, acrescentando que o país investe pesadamente em novas capacidades militares modernas.

“Essas armas, essas ogivas podem atingir toda a Otan, toda a Europa. E, é claro, quando olhamos para o futuro quando discutimos como ter certeza de que podemos manter todos os Aliados seguros, também temos que levar em conta a ascensão da China, econômica e militarmente”, projetou.

Questões espinhosas

Stoltenberg também declarou que, em breve, os chineses terão a maior economia do mundo, mas os rumos democráticos no país preocupam. “Eles não compartilham nossos valores. Vemos como eles reprimem os protestos democráticos em Hong Kong e como tratam as minorias como os uigures, e também a linguagem ameaçadora que usam contra Taiwan“, observou.

Já Niinistö foi perguntado sobre um assunto espinhoso, como o momento complicado da relação entre a Rússia e a Otan, que está em seu nível mais baixo há décadas.

Questionado sobre o que a Finlândia poderia fazer para ajudar a manter os canais de discussão abertos, o líder finlandês disse que “o diálogo, como ouvimos, não está funcionando muito bem. Em minhas discussões com os líderes russos, sempre tentei apontar que é importante que haja uma discussão russo-ocidental em andamento – Ocidente neste caso é a Otan, a UE (União Europeia), seja o que for – e eu continuarei a defender esse tipo de posição porque reflete o espírito de Helsinque. E é disso que precisamos agora”, ponderou.

Por que isso importa?

Recentemente, analistas e líderes militares ouvidos pela rede norte-americana Voice of America (VOA) constataram que o alto investimento militar pode levar a China a superar os Estados Unidos como mais poderosa força aérea do mundo. Considerando que as forças armadas norte-americanas representam a principal força militar da Otan, garantidoras da segurança de todo o bloco, a constatação é preocupante para os Estados-Membros.

A disputa pela supremacia militar aérea voltou à tona com a maior incursão de jatos da força aérea chinesa em Taiwan, no início do mês. Somente no dia 4 de outubro, a China enviou 56 aeronaves ao espaço aéreo da ilha, concluindo numa ação que se estendeu por quatro dias e envolveu 149 caças e bombardeiros.

Em setembro, durante uma conferência militar, o general Charles Brown Jr., chefe do Estado-Maior da força aérea norte-americana, qualificou o exército chinês como detentor das “maiores forças de aviação do Pacífico”. E disse que o posto foi alcançado “debaixo de nosso nariz”, sem uma resposta à altura. Mais: ele projetou que a China pode assumir a supremacia aérea militar global em 2035.

No mesmo evento, o tenente-general S. Clinton Hinote manifestou opinião semelhante e advertiu que os EUA não acompanham os avanços da China. “Em algumas áreas importantes, estamos atrasados. E falo ‘nesta noite’. Esse não é um problema de amanhã. É de hoje”. Posteriormente, em conversa privada com jornalistas, reforçou a opinião de que os chineses já igualaram os avanços tecnológicos norte-americanos no setor.

Na visão de Eric Heginbotham, principal cientista pesquisador do Centro de Estudos Internacionais do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, da sigla em inglês), a recente incursão aérea da China em Taiwan é prova do avanço militar do rival. “Eles estão montando pacotes de aviões de caça, o J-16 em particular, que voam em grande número. E essa é uma capacidade relativamente nova. Estão montando pacotes completos, enviando também aeronaves antissubmarino. Eles estão mostrando muito”.

Um estudo de 2015 do think tank RAND Corporation, da Califórnia já havia alertado para os avanços chineses. O documento dizia que “as melhorias contínuas nas capacidades aéreas chinesas tornam cada vez mais difícil para os Estados Unidos alcançarem a superioridade aérea dentro de um prazo política e operacionalmente eficaz”. E destacou os riscos que isso pode representar para Taiwan: “especialmente em um cenário próximo ao da China continental”.

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