Os Estados Unidos correm o risco de interromper a maioria dos procedimentos realizados na embaixada do país em Moscou, a não ser que o governo russo mude sua política e aceite fornecer uma maior quantidade de vistos para os diplomatas norte-americanos. O alerta foi feito na quarta-feira (27) por uma autoridade nacional, segundo o jornal independente The Moscow Times.
O primeiro serviço interrompido na embaixada foi o de fornecimento de vistos. Desde o início do mês, pessoas que necessitem do documento são aconselhadas a se deslocar até a embaixada norte-americana em Varsóvia, na Polônia, que fica a cerca de 1,2 mil quilômetros de Moscou.
“Precisamos progredir logo. Vamos enfrentar a situação. Não no mês que vem, mas em algum momento do ano que vem. É difícil mantermos algo além da presença de um zelador na embaixada”, disse um alto funcionário do Departamento de Estado.
Segundo a fonte, ficou difícil manter inclusive funções não burocráticas, tais como abrir e fechar os portões e operar os elevadores do edifício. Ainda assim, ele mantém a esperança de contornar a situação. “Faremos tudo o que for humanamente possível para manter essa missão aberta”.
Reciprocidade
A atuação diplomática dos EUA na Rússia sofreu um baque em agosto, quando Moscou proibiu as embaixadas no país de contratarem cidadãos russos ou de países terceiros. Assim, o governo norte-americano foi obrigado a demitir cerca de 200 cidadãos locais que empregava em suas missões diplomáticas russas.
Segundo Washington, falta reciprocidade na relação diplomática entre os dois países. Isso porque a Rússia considera cidadãos locais ao calcular o número de pessoas autorizadas a trabalhar nas missões. Os EUA, por sua vez, incluem na matemática apenas os cidadãos russos.
A diplomacia norte-americana já chegou a contar com 1,2 mil pessoas em atuação na Rússia, e hoje tem por volta de 120. Os russos têm 230 em solo norte-americano. “Eles têm uma presença muito maior aqui nos Estados Unidos do que nós na Rússia”, disse o funcionário.
Por que isso importa?
A tensão entre EUA e Rússia não se limita ao corpo diplomático. O desacerto é especialmente relevante em assuntos militares e de segurança digital. Um dos focos de atrito é a anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, bem como a suposta presença de militares e mercenários russos no conflito de Donbass, no leste da Ucrânia.
Em março de 2014, as autoridades da Crimeia realizaram um referendo sobre a “reunificação” da região com a Rússia, que teve aprovação superior a 90%. Após o referendo, considerado ilegal pela ONU (Organização das Nações Unidas), a Crimeia passou a se considerar território russo, adotando o rublo como moeda e mudando o código dos telefones.
A anexação é reprovada especialmente pela Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), e apenas nove países tratam a Crimeia como parte da Rússia: Zimbábue, Venezuela, Síria, Nicarágua, Sudão, Belarus, Armênia, Coreia do Norte e Bolívia. Para a comunidade internacional, trata-se de um território ucraniano sob ocupação russa.
O governo russo também é acusado de apoiar os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. A situação levou a uma aproximação entre Kiev e Washington, contestada por Moscou e que ajudou a intensificar a tensão entre as duas superpotências.
O conflito armado no leste, que já matou mais de 13 mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que juntas compõem a região de Donbass e têm suporte militar russo. Entre as demandas dos grupos pró-Moscou estão maior autonomia das duas repúblicas autoinstituídas, de maioria étnica russa.
Outro foco de atrito entre norte-americanos e russos é a segurança cibernética. Washington e seus aliados acusam Moscou de patrocinar grupos hackers responsáveis por ciberataques contra governos e empresas ocidentais, bem como de semear desinformação online para abalar democracias e direcionar resultados eleitorais.
Em julho, o presidente norte-americano Joe Biden chegou a cobrar explicitamente uma ação de Moscou durante conversa telefônica com o líder russo Vladimir Putin. A conversa, porém, não surtiu efeito, e os casos de ações digitais maliciosas realizadas por grupos de hackers ligados ao Kremlin tem aumentado.
Mais recentemente, a Rússia foi excluída de uma reunião virtual de combate a crimes digitais organizada pelos Estados Unidos. Trinta países foram convidados para o evento, e Moscou ficou de fora. Na pauta, tópicos como uso de criptomoedas no pagamento de resgates virtuais e a legislação global de combate a ações do tipo ransomware.
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