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terça-feira, 26 de outubro de 2021

Nações vizinhas vetam general, e Mianmar se ausenta de cúpula do Sudeste Asiático

O governo de Mianmar optou por não enviar um representante à cúpula anual da ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático, da sigla em inglês), que teve início nesta terça-feira (26) e foi realizada de forma virtual. As informações são da agência Reuters.

O bloco havia vetado a participação do general Min Aung Hlaing, que assumiu o poder em Mianmar no golpe de Estado de fevereiro, levando à prisão a presidente eleita Aung San Suu Kyi. A ASEAN, então, determinou que somente um represente de nível não político poderia participar da cúpula, o que irritou o governo birmanês e levou ao boicote.

“A decisão da ASEAN de convidar um representante de Mianmar em um nível não político foi pesada, mas tinha que ser feita”, disse o presidente da Indonésia Joko Widodo, dirigindo-se aos demais líderes. “É importante que honremos os princípios de não interferência. Mas, por outro lado, somos obrigados a defender outros princípios, como democracia, boa governança, respeito pelos direitos humanos e um governo constitucional”, disse ele.

Min Aung Hlaing, general que lidera a junta no poder em Mianmar desde o golpe de Estado (Foto: Wikimedia Commons)

Hun Sen, primeiro-ministro do Camboja, também repreendeu os vizinhos. Segundo ele, Mianmar não foi expulsa da cúpula, e sim “abandonou seu direito”. “Agora estamos na situação de ASEAN menos um. Não é por causa da ASEAN, mas por causa de Mianmar”, afirmou.

O grupo de legisladores Parlamentares da ASEAN pelos Direitos Humanos aproveitou a oportunidade para cobrar do bloco uma aproximação do movimento de resistência autodenominado Governo de Unidade Nacional (NUG, na sigla em inglês), que se autoqualifica como governo legítimo de Mianmar e inclusive tentou participar do evento.

“A ASEAN deve parar de convidar qualquer outro representante da junta para todas as reuniões oficiais da ASEAN até que haja um fim à violência, todos os presos políticos sejam libertados e a vontade do povo por uma democracia plena seja ouvida”, disse o grupo em um comunicado, segundo a rede Voice of America (VOA).

Por que isso importa?

Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 900 pessoas desde o golpe de 1º de fevereiro deste ano, uma reação dos militares às eleições presidenciais de novembro de 2020.

Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro, então, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.

O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.

Mais recentemente, o governo declarou guerra a médicos e demais trabalhadores da saúde. As forças de segurança têm prendido, agredido e até matado os profissionais da área, considerados inimigos da junta que governa o país.

“Os ataques ao sistema de saúde são encarados como uma arma de guerra da junta”, declarou um médico em fuga há meses, cujos colegas de clínica foram presos. “Acreditamos que tratar os pacientes, fazendo nosso trabalho humanitário, é um trabalho moral, não um crime”.

Os médicos entraram na mira da junta porque são respeitados pela população e extremamente bem organizados, com sindicatos e grupos profissionais atuantes. Desde o golpe eles formam uma forte oposição ao governo militar e, atualmente, são voz importante para denunciar e combater os abusos.

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