O controle estatal do governo chinês sobre a mídia local ganhou um novo alvo. A Caixin Media, principal revista de economia do país, foi excluída de uma lista de veículos cujo conteúdo pode ser reproduzido na internet local. As informações são do jornal norte-americano Westport News.
Ao contrário da maioria dos veículos de mídia na China, a Caixin é independente e tem financiamento privado, não estatal. A publicação constava na lista anterior de cerca de 1,3 mil veículos aprovados pelo Partido Comunista Chinês (PCC), mas agora foi excluída. Assim, deixará os populares agregadores de conteúdo locais, e as notícias poderão ser acessadas somente pelo próprio site da publicação, o que tende a reduzir seu alcance.
A medida atingiu também outra mídia independente financeira chinesa, o jornal The Economic Observer. De acordo com o órgão que regula a internet na China, as publicações censuradas “não atendem mais aos requisitos, têm desempenho diário ruim e falta de influência”. O objetivo, segundo os reguladores, é manter a “seriedade e a credibilidade” da lista.
No início deste mês, projetos de regulamentação emitidos pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma, o principal órgão de planejamento do PCC, indicavam que os investimentos privados em operações de produção e distribuição de informações jornalísticas seriam proibidos.
Repressão crescente
David Bandurski, codiretor do China Media Project (Projeto de Mídia da China, em tradução literal), da Universidade de Hong Kong, afirma que a decisão “marca a consolidação dos controles do partido sobre a criação e a distribuição de notícias”, segundo o jornal The Financial Times. “O objetivo é garantir que o universo crescente de produtos de mídia digital seja politicamente disciplinado quando se trata de fontes de notícias e discussão de temas atuais”, diz ele.
Para a jornalista Joanna Chiu, especialista em mídia chinesa, a decisão não chega a afetar as operações da revista, mas vale como alerta de que novas medidas, essas mais severas, podem ser adotadas posteriormente. “Infelizmente, os poucos meios de comunicação chineses independentes restantes já se autocensuram há muito tempo”, diz ela, que projeta o mesmo destino para a Caixin.
Por que isso importa?
A medida ocorre em um momento de intensificação da repressão intelectual na China. Casos diversos, voltados não somente à liberdade de imprensa, têm sido registrado. Em setembro, artigo publicado no jornal The New York Times destacou a crescente rejeição estatal à língua inglesa, numa tentativa de reduzir o que o governo enxerga como influência estrangeira. As autoridades educacionais de Xangai, a cidade mais cosmopolita do país, chegaram a proibir as escolas primárias locais de realizarem os exames finais de inglês.
Na Austrália, o think tank local Lowy Institute constatou, também em setembro, que veículos australianos de língua chinesa têm publicado notícias que passam por censura prévia de tradutores da China, de modo a evitar repercussões negativas em Beijing. Segundo o documento, uma equipe na China pratica autocensura ao traduzir notícias tiradas da imprensa australiana, algo semelhante ao que se teme possa ocorrer com a Caixin. Por vezes, são notícias com ponto de vista até favorável ao governo australiano, mas distorcidas pelos tradutores por receio do controle estatal chinês.
O governo da China afirmou, ainda, que pretende implementar uma nova medida para reprimir o que considera “comportamentos afeminados” e “vulgaridade” na televisão. A ideia é adotar uma “atmosfera patriótica” na indústria de entretenimento, usando um filtro moral e político na seleção de elenco para os programas. Além disso, alguns shows de talentos foram proibidos, bem como a votação popular em reality shows.
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