A anomalia classificada como Síndrome de Havana, que há cerca de cinco anos tem acometido autoridades dos Estados Unidos, pode ter começado 20 anos antes do que se tem notícia. É o que sugere uma ação judicial movida por um ex-funcionário da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), que sofreu de sintomas semelhantes durante uma viagem a trabalho em 1996 e até hoje tenta provar a relação entre aquele evento e os problemas de saúde que o acompanham desde então. As informações são da rede local GPB.
Em 1996, durante uma viagem profissional a um “país hostil”, cujo nome é confidencial, Michael Beck conta que foi detido ainda no aeroporto. Depois de liberado, passou a ser seguido de perto por autoridades locais, e dias depois começou a se sentir mal. “Foi um cansaço e uma fraqueza extremos. Eu era uma geleia, não conseguia me mover”, diz ele.
Cerca de dez anos depois, ele e um colega que o acompanhou naquela viagem, Chuck Gubete, foram diagnosticados com Parkinson praticamente ao mesmo tempo. O colega, que morreu posteriormente em virtude da doença, tinha histórico de casos na família, ao contrário de Beck. Convicto de que o problema começou na tal viagem, ele ingressou com um pedido de indenização contra a NSA, que durante a ação judicial redigiu uma carta reveladora.
“A Agência de Segurança Nacional confirma que há informações de inteligência de 2012 associando o país hostil ao qual o Sr. Beck viajou no final da década de 1990 com uma arma de sistema de microondas de alta potência que pode ter a capacidade de enfraquecer, intimidar ou matar um inimigo ao longo do tempo e sem deixar evidências”, diz o documento.
Segundo o advogado de Beck, Mark Zaid, o que chama atenção é o ano em que foi escrita a carta, 2014. Apenas dois anos depois, em 2016, os primeiros casos suspeitos de Síndrome de Havana foram anunciados por Washington. Os eventos em questão ocorreram na capital de Cuba, daí o nome, e as vítimas foram diplomatas e outros funcionários estatais que relataram os sintomas após ouvirem estranhos sons agudos e graves.
Arma sônica
Recentemente, a polícia da Alemanha confirmou a existência de uma investigação para apurar possíveis casos de Síndrome de Havana registrados na Embaixada dos Estados Unidos em Berlim. As autoridades revelaram que desde agosto está em andamento um processo que analisa o “suposto ataque com arma sônica” contra representantes da diplomacia norte-americana.
Na semana passada, em entrevista publicada pela revista eletrônica de política Slate, Michael Wilner, correspondente sênior de segurança nacional e da Casa Branca, disse que a Rússia é conhecida por usar tecnologias de radiofrequência como “ferramenta de vigilância”. Tais tecnologias seriam compatíveis com as possíveis origens do problema sugeridas por acadêmicos e se enquadram no perfil da investigação em curso na Alemanha.
“Elas têm alcance especialmente nos países onde vimos casos relatados: Vietnã, Áustria, Reino Unido, na área de Washington e, claro, em Cuba. Os russos são conhecidos por operar e prosperar na ‘zona cinzenta’. Eles usam veneno e armas cibernéticas, e isso se encaixa nesse padrão. Por isso, há muito se suspeita que a Rússia seja a culpada mais provável”, disse Wilner.
Por que isso importa?
A Síndrome de Havana consiste em uma alteração das funções cerebrais que gera dor de cabeça, enjoo, tontura e prejuízos à audição. Embora os cientistas não tenham uma posição conclusiva sobre a condição, um relatório das Academias Nacionais de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA aponta que algumas das lesões cerebrais observadas em possíveis vítimas são consistentes com os efeitos da energia de microondas direcionada.
Um relatório das agências de segurança norte-americanas aponta que muitos dos oficiais de inteligência e diplomatas acometidos pelo distúrbio trabalham com temas ligados à Rússia, entre eles segurança cibernética, exportação de gás e questões de interferência política.
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