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sexta-feira, 22 de outubro de 2021

França confirma morte de terrorista líder de facção da Al-Qaeda no Sahel africano

O exército francês forneceu nesta quinta-feira (21) mais informações sobre a ação que levou à morte de um dos líderes do grupo extremista Jamaat Nasr al-Islam wal Muslimin (JNIM, Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos), que tem vinculo com a Al-Qaeda e opera no Mali, perto da fronteira com Burkina Faso e Níger.

Através de seu Twitter, o exército anunciou que o terrorista neutralizado é na verdade Nasser Al Tergui, o número dois da organização, subordinado ao líder Abou Hamza Al Chinguetti. Outros quatro extremistas morreram no ataque aéreo.

Al Tergui era membro da Al-Qaeda desde 2012, e posteriormente se juntou ao JNIM, uma coalizão de milícias jihadistas atuantes na região do Sahel da África Subsaariana formada em 2017. “Ele se especializou notavelmente em plantar artefatos explosivos improvisados”, afirma o comunicado do exército francês.

Ainda de acordo com os militares, a morte dele “reduzirá a capacidade de causar danos desse grupo terrorista armado conhecido por realizar ataques contra as forças locais e numerosos atos de violência contra a população local”.

A missão Barkhane, do exército francês, usou um drone para localizar Al Tergui e os outros membros no dia 15 de outubro, em um acampamento. No dia seguinte, um helicóptero militar foi enviado ao local, mas o veículo com os extremistas se recusou a parar. “Dois ataques aéreos foram desencadeados, o veículo foi destruído, e os cinco ocupantes, neutralizados”, disse o exército.

A ação francesa chegou a ser noticiada anteriormente pela imprensa europeia, com base em informações da agência Efe. Num primeiro momento, surgiu o nome de Saghid Ag Alkhoror como sendo líder do JNIM morto na operação. Agora, o exército fez a identificação correta do terrorista.

Exército francês em missão no Sahel africano, em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)

Negociações com extremistas

A confirmação da morte de Al Tergui vem em um momento de desacerto entre os governos do Mali e da França, a principal aliada militar do país africano. Isso por o governo do coronel Assimi Goita iniciou um processo que pode levar a um acordo de paz com grupos extremistas locais.

O Ministério dos Assuntos Religiosos do Mali encarregou o Alto Conselho Islâmico, principal órgão islâmico do país, a sentar-se com representantes das facções locais para negociar uma trégua. Isso depois de o governo abrir negociações com um esquadrão de mercenários, o Wagner Group, a fim de fortalecer o combate ao extremismo.

Tanto as negociações de paz com os jihadistas quanto a contratação dos mercenários são reprovadas por Paris, que sempre deixou claro não admitir negociações com grupos terroristas. O governo francês, inclusive, iniciou um processo de redução de tropas no Mali por ordem do presidente Emmanuel Macron, sob o argumento de que as ações não têm dado o resultado esperado.

Por que isso importa?

A instabilidade no Mali começou com o golpe de Estado em 2012, quando vários grupos rebeldes e extremistas tomaram o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em agosto do ano passado o quarto golpe militar na sua história, gerando uma turbulência política que dificulta o combate aos insurgentes.

Especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada na região, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas e a consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.

Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.

O governo do coronel Assimi Goita, admitindo a incapacidade de conter o avanço dos jihadistas mesmo com apoio militar internacional, resolveu recorrer ao uso de um esquadrão de mercenários. Trata-se do Wagner Group, uma organização obscura russa cuja própria existência é invariavelmente desmentida.

No Brasil

Casos mostram que o país é um “porto seguro” para extremistas. Em dezembro de 2013, um levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram. Saiba mais.

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