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sábado, 2 de outubro de 2021

Banda Pussy Riot leiloa NFT para lembrar dez anos da prisão de integrantes

Há cerca de uma década, as integrantes da banda Pussy Riot eram o principal expoente da luta contra a repressão na Rússia. O ápice da perseguição contra o grupo de punk rock ocorreu, em agosto de 2012, quando três membros foram presas e enviadas a uma colônia penal na Sibéria. De lá para cá, outros opositores foram detidos por Moscou, alguns fugiram do país e o Pussy Riot deixou de ser a principal voz contra o presidente Vladimir Putin.

O Pussy Riot segue na ativa, não apenas na Rússia, mas também em outros países, defendendo causas feministas e democráticas. Na ultima quinta-feira (3), o grupo recordou os quase dez anos daquela condenação com um NFT (token não-fungível, da sigla em inglês) inspirado na sentença de prisão emitida pela Justiça russa. As informações são do site The Art Newspaper.

O NFT é um token digital usado para dar autenticidade e valorizar objetos físicos ou digitais, tornando-os únicos. É um processo semelhante ao das criptomoedas. No caso do Pussy Riot, o token foi batizado Virgin Mary, Please Become A Feminist (Virgem Maria, Por Favor, Torne-se uma Feminista, em tradução literal), frase retirada do documentário sobre o grupo A Punk Prayer (Uma Oração Punk, em tradução literal).

Nadya Tolokonnikova, uma das fundadoras do grupo, é a idealizadora e autora da obra, que mostra a Virgem Maria em forma de vagina sobre uma cópia do documento da sentença de prisão.

NFT do Pussy Riot, batizado Virgin Mary, Please Become A Feminist (Foto: divulgação)

Segundo Tolokonnikova, a ideia de usar a Virgem Maria como base para a obra surgiu devido ao fundo religioso de sua condenação. O próprio juiz que emitiu a sentença citou o feminismo como uma das razões para banir o Pussy Riot. “Várias religiões, como o Cristianismo Ortodoxo, o Catolicismo e o Islamismo, têm uma base religiosa e dogmática incompatível com as ideias do feminismo”, diz o documento.

“Fomos contra a religião tradicional de nosso país e daí eles concluíram que éramos um perigo para a sociedade e deveríamos ser isoladas”, conta a artista, que explica também o uso da sentença como pano de fundo. “No início, pensei: Odeio este pedaço de papel. Eu só quero queimá-lo. Mas, em vez disso, criei esses pequenos desenhos infantis e realmente alegres, que transformaram algo que me deprimia em uma ferramenta para me fortalecer”.

À época, a sentença contra as três feministas gerou protestos contrários de governos, como os dos Estados Unidos e do Reino Unido, e atraiu muitos artistas para a causa, entre eles Banksy, Paul McCartney, Björk e Yoko Ono.

Tolokonnikova só foi solta em dezembro de 2013, mais de um ano após a condenação. Mas a perseguição imposta pelo governo não terminou ali. Ela conta que já foi intimidada, detida e até agredida muitas vezes desde então. Mas não desistiu da causa.

“Esta é a batalha que escolhi , trazer mais positividade, aceitação e direitos democráticos para o mundo. Não para com Putin. Enfrentamos opressão sistêmica, é um problema global ”, diz ela, que recentemente participou de protestos no Texas, Estados Unidos, contra uma lei que reduziu as possibilidade de aborto no Estado norte-americano.

Nadya Tolokonnikova , líder do Pussy ERiot (Foto: republica GmbH/Flickr)

Obra arrematada

O valor dos NFTs é normalmente definido em Ethereum (ETH), uma criptomoeda assim como o Bitcoin.

O lance inicial pelo NFT do Pussy Riot era de 13.12 ETH (cerca de US$ 42 mil), que foi logo coberto durante o leilão. No final, foi arrematado por 40 ETH (cerca de US$ 129 mil). O lucro obtido com o leilão será usado para apoiar vítimas de violência doméstica e prisioneiros políticos atualmente encarcerados na Rússia, além de dar suporte a futuros projetos de arte e ativismo do grupo.

Em março, o grupo havia leiloado seu primeiro NFT, um videoclipe oficial do single Panic Attack arrematado por 100 ETH (cerca de US$ 324 mil em valores atuais).

Por que isso importa?

Como o Pussy Riot lá atrás, hoje Alexei Navalny é o principal crítico de Putin. Ele ganhou destaque internacional ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia, tendo como principal plataforma o combate à corrupção no governo, além de cobrar uma profunda reforma na estrutura política do país.

Alexei Navalny, político russo que faz oposição ao presidente Vladimir Putin (Foto: Alexei Ruban/Flickr)

A perseguição ao oposicionista se estende a seus seguidores, muitos deles condenados pela Justiça por terem participado de manifestações contra o governo. É o caso de Lyusya Shtein, integrante do Pussy Riot e deputada municipal condenada a um ano de “liberdade restrita”. O argumento da Justiça: as manifestações desobedecem às normas sanitárias em meio à pandemia de Covid19

Nikolai Lyaskin, chefe de campanha de Navalny, também pegou um ano de “liberdade restrita”, assim como a advogada Lyubov Sobol, que deixou o país pouco depois de tomar conhecimento da sentença. Posteriormente, Kira Yarmysh, porta-voz do oposicionista, e Oleg Stepanov, coordenador de equipe, foram sentenciados a um ano e meio.

A sentença de Oleg Navalny, irmão de Alexei, foi diferente. Ele foi condenado a um ano de prisão, com a pena suspensa pelo período probatório de um ano.

Em agosto, a Justiça russa abriu uma nova acusação criminal contra Alexei Navalny, o que poderia ampliar a sentença de prisão dele em três anos. Ele foi acusado de “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou. Agora uma terceira acusação pode ampliar o encarceramento do oposicionista pode até dez anos.

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