O embaixador interino dos Estados Unidos no Brasil, Douglas Koneff, fez duras críticas à empresa chinesa Huawei em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo da última sexta-feira (15). A poucas semanas do leilão de 5G no Brasil, Koneff, que é o encarregado interino de Negócios da Missão dos EUA no país desde junho, declarou que a gigante chinesa tem “histórico de comportamento antiético, ilegal e inadequado, incluindo roubo de propriedade intelectual”.
A acusação da autoridade norte-americana encontra apoio tanto no discurso do ex-presidente Donald Trump, que afirmou durante seu mandato que a Huawei praticava espionagem a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC), quanto no governo Joe Biden, que endossa a postura receosa de seu antecessor na Casa Branca.
“Todos os países que querem proteger sua propriedade intelectual vão se preocupar com companhias não confiáveis”, ponderou Koneff.
Para Trump, que suspendeu as licenças da Huawei dois dias antes de deixar a presidência, a fabricante de celulares utiliza redes de telecomunicação para colher clandestinamente informações sigilosas. A desconfiança do republicano sobre os chineses encontra eco no pensamento da equipe de Biden, que tem funcionários contrários à participação da multinacional em negócios de países parceiros comerciais dos EUA.
Koneff disse que “os Estados Unidos continuam a ter fortes preocupações sobre o potencial papel da Huawei na infraestrutura de telecomunicações. Não somente no Brasil”. E acrescentou que outros países compartilham dessas preocupações. “Reino Unido, França, Suécia, Índia, Austrália, Canadá e Japão já chegaram à mesma conclusão”, disse o embaixador.
Em agosto de 2020, após os anúncios de Reino Unido e Austrália, Portugal também declarou rejeição à 5G da Huawei. O anúncio ocorreu após a UE (União Europeia) instar os Estados-Membros a tomarem medidas para diversificar os fornecedores do 5G. A tática visava à redução da presença do fabricante chinês no continente.
Retaliação
A declaração de Koneff sobre a conduta ética da companhia chinesa veio à tona após ele ser perguntado se poderia ocorrer algum tipo de retaliação dos Estados Unidos contra o Brasil no caso da participação da Huawei na implementação das redes 5G no país, momento no qual ele questionou a idoneidade da empresa.
“Ainda não sabemos como a Huawei vai ser incluída neste leilão. (…) Acho que para um crescimento rápido e sustentável, o Brasil vai precisar dos melhores parceiros nessa área de tecnologia. Não queremos que o Brasil fique para trás. O Brasil pertence aos países mais avançados do mundo, protegendo seus dados para proteger seu futuro. Eu vi hoje que o Brasil está pensando no futuro, que o Brasil quer sistemas abertos, sistemas diversos com mais opções para seu povo.
Procurada pela reportagem da Folha para um contraponto, a Huawei diz que está no Brasil há 23 anos, “sempre comprometida com integridade, ética e os mais elevados padrões de governança corporativa”, que ciberssegurança é tema essencial para a companhia e que possui centros transparência disponíveis para autoridades regulatórias.
Quinta geração
Segundo o Governo Federal, o leilão é considerado pela Anatel o maior de radiofrequência da história do país. Na licitação, serão ofertadas quatro faixas de radiofrequências: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Essas faixas funcionam como uma espécie de rodovia no ar, por meio de ondas eletromagnéticas, responsáveis pelas transmissões de TV, rádio e internet.
O 5G é o padrão de tecnologia de quinta geração para redes móveis e de banda larga. É o sucessor planejado das redes 4G, que fornecem conectividade para a maioria dos dispositivos atuais. A intenção do governo é que, até julho de 2022, as 26 capitais e o Distrito Federal tenham cobertura 5G.
Por que isso importa?
No 5G, que tornou-se ferramenta de pressão geopolítica, os riscos de segurança são mais elevados. Isso porque a nova tecnologia incorpora softwares responsáveis por um processamento dos dados pessoais dos clientes e outras informações confidenciais.
A decisão de utilizar ou não a Huawei nas redes móveis põe a Europa no fogo cruzado da intensa pressão dos Estados Unidos para banir o grupo. Washington alega potencial de vazamento de dados e outras brechas de segurança em benefício do governo chinês.
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