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quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Delator revela como obteve vídeos de tortura policial em prisões russas

O responsável pelo v azamento de vídeos que revelam torturas cometidas por agentes estatais contra detentos na Rússia declarou que a motivação pela divulgação das imagens foi a de que ele “não poderia mais manter as revelações explosivas para si mesmo”. De acordo com o jornal independente The Moscow Times, ele agora busca asilo na França.

O delator é o belarusso Sergei Savelyev, um profissional de TI (tecnologia da informação) e ex-presidiário colocado em liberdade em fevereiro deste ano. Segundo declaração do seu advogado à agência AFP na segunda-feira (18), ele “foi autorizado a entrar em território francês para apresentar seu pedido de asilo dentro de oito dias”, e lá desembarcou no sábado (16).

Savelyev enviou à ONG Gulagu.net mais de mil vídeos que mostram prisioneiros sendo espancados e torturados por agentes da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês) e do Serviço Prisional Federal (FSIN, da sigla em russo), encontrados quando ele trabalhava com manutenção de computadores na cadeia.

Syarhey vazou os vídeos que mostram abusos diversos contra detentos em prisões russas (Foto: reprodução/Gulagu.net)

As imagens mostram abusos em várias penitenciárias, incluindo uma que supostamente mostrava um prisioneiro gritando enquanto era estuprado com um cabo de vassoura. Há também cenas de prisioneiros urinando em outros presidiários, bem como imagens explícitas de abuso sexual.

Após a denúncia, uma investigação resultou na demissão de vários funcionários, entre eles o diretor de uma prisão onde foram relatados abusos, o chefe do serviço penitenciário regional e mais três funcionários do FSIN.

Entre 2018 e 2020, pelo menos 200 presidiários teriam sido vítimas de tortura e estupro por agentes da FSB e do FSIN nos hospitais de penitenciárias das cidades de Saratov e Irkutsk. As imagens mostram maus tratos praticados contra 40 deles. 

“O que fazer depois de saber?”

Sergei Savelyev, de 31 anos, era um detento cumprindo pena por tráfico de drogas – pela qual foi mantido durante sete anos e meio na cadeia. Ao testemunhar a violência, refletiu que não tinha outra escolha que não fosse delatar o caso.

“Psicologicamente, é muito difícil manter coisas assim para si mesmo. O que mais você pode fazer depois de saber?”, disse ele à AFP no domingo (18) no aeroporto de Paris.

Durante suas atividades como oficial de manutenção de informática,

Savelyev teve acesso ao servidor interno da prisão e de outras cadeias, onde encontrou vários vídeos. O material foi salvo em pen drives, que ficaram escondidos. No dia de sua saída da prisão, durante uma revista minuciosa, ele agarrou os dispositivos de memória, sem ser visto pelos guardas, e levou-se consigo quando foi libertado.

Violência rotineira

Savelyev conta que os abusos no cárcere são praticados inclusive pelos próprios detentos, que querem agradar os agentes penitenciários. Segundo ele, isso ocorre para tentar forçar os presos a confessar ou delatar outros apenados.

Em muitos desses casos, segundo ele, a tortura é filmada para que a vítima possa ser chantageada para cooperar com seus manipuladores. Savelyev disse que sofreu abusos em uma prisão em Krasnodar para forçá-lo a “cooperar”, e que foi “espancado uma vez por semana, mas não tanto a ponto de deixar hematomas muito visíveis”.

O ex-presidiário diz que agora teme represálias do FSIN (Serviço Prisional Federal, da sigla em russo) e da FSB (Agência Nacional de Segurança, da sigla em inglês) e que, caso retorne a Minsk, capital de sua terra natal, teme um desaparecimento forçado ou até mesmo a execução, vez que Belarus é forte aliada da Rússia.

Por que isso importa?

O sistema carcerário russo ganhou atenção global devido a denúncias de Alexei Navalny, o principal opositor do presidente Vladimir Putin. O oposicionista está preso desde fevereiro deste ano em uma colônia penal de alta segurança, a IK-2, 100 quilômetros a leste de Moscou.

Navalny, detido por ter liderado manifestações não autorizadas contra o Kremlin, chegou a fazer uma greve de fome de 23 dias em abril. Na ocasião, ele protestava contra a falta de atendimento médico e contra o que classificou como “tortura” por privação de sono, alegando que um guarda o acordava de hora em hora durante a noite.

Em agosto, a Justiça russa abriu uma segunda acusação criminal contra Navalny, o que pode ampliar a sentença de prisão em três anos. A acusação: “incentivar cidadãos a cometerem atos ilegais”, por meio da Fundação Anticorrupção (FBK) que ele criou. Mais recentemente, uma terceira acusação, de “extremismo”, pode estender o encarceramento por até uma década.

Caso seja condenado em alguma das novas acusações, Navalny será mantido sob custódia no mínimo até o fim da próxima eleição presidencial, em 2024, quando chega ao fim o atual mandato de seis anos de Putin no Kremlin.

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